Ainda outra
explicação devemos ao Dr. Bullinger: “A
profecia foi primeira falada por Jeremias e depois escrita por Zacarias”.
O suicídio de Judas
(1-10) “Comparando Mateus com Atos 1.16-19, parece que depois de judas se
enforcar, seu corpo caiu. A citação atribuída a Jeremias é bem parecida com
Zacarias 11.12,13. Isto tem sido explicado pelo fato de que o volume dos livros
proféticos era geralmente conhecido pelo nome do primeiro, e no cânon judaico o
primeiro era Jeremias. Outra explicação é que o nome do profeta foi
acrescentado (erradamente) por alguns copistas do manuscrito original, pois
vários manuscritos omitem ‘Jeremias’ depois da palavra profeta” (Treasury).
O que vemos em Judas é
antes remorso do que um verdadeiro arrependimento. Um homem totalmente
endurecido nem remorso teria sentido. Ofender um seu semelhante menos santo e menos amável, não
teria ocasionado comoção tão profunda.
No caso de Judas vemos
o perigo de uma familiaridade com o que é espiritual e divino, sem haver
constante exercício espiritual. Acontece o mesmo hoje. Facilmente se costuma
cantar hinos sublimes sem prestar atenção ao seu sentido. O pregador repete
tantas vezes o Evangelho que não se sente mais comovido por ele. O crente
afirma que “tem a vida eterna” sem sentir o verdadeiro significado de expressão
tão sublime.
“Claramente é a agonia
do remorso que vemos em Judas, e não o arrependimento verdadeiro. Ele não pôde
ficar com o dinheiro que ganhara, o qual, mesmo no parecer dos sacerdotes,
estava manchado de sangue.”
Até mesmo aos ouvidos
deles Judas grita a confissão do seu pecado em ter traído sangue inocente: não
grita sangue santo ou justo, e ainda menos o Santo e o Justo. A glória do Filho de Deus não o preocupa.
Nada de chegar-se àquele em cuja companhia por tanto tempo tinha andado – não
havia nenhum reconhecimento de qualquer recurso a que pudesse recorrer. Enfim,
não há nada de fé, e por isso nada de arrependimento. Ele atira as moedas no
santuário – a parte do templo reservada aos sacerdotes – ‘e foi se enforcar’.
Em tudo isso vemos o contrário da fé. Quantas vezes ele teria visto as obras
maravilhosas que testificaram que ‘o Filho do homem tem poder sobre a terra
para perdoar os pecados’, mas parece não se lembrar de nada disso, ou não pode
acreditar na divina misericórdia para
consigo, e por isso se atira na ruína irrevogável” (Grant).
“Que carreira e que
fim! Alguns maus homens tornam-se bons, e alguns bons tornam-se maus, mas aqui
um homem mau permanece mau até o fim. A sua confissão e remorso não importam em arrependimento no sentido
evangélico. O arrependimento de Pedro resultou em Santificação; o remorso de
Judas em suicídio. Judas não somente vendeu o Mestre, mas a si mesmo. Que preço
tem a sua alma, leitor? Alguns vendem a alma por dinheiro facilmente adquirido,
outros pelos prazeres do mundo, mas Judas nada lucrou” (Scroggie).
Jesus perante Pilatos
(11-31). Cristo é a grande “pedra de toque” do universo. Em contato com Ele
todos se revelam. Os chefes religiosos do judaísmo descobriram o seu ódio pelo
Sumo Bem; Pilatos descobriu sua fraqueza e indecisão, a sua incapacidade de
exercer a justiça; o povo revela a sua preferência por um malfeitor; a esposa
de Pilatos revela uma justa apreciação da inocência de Jesus; os soldados
revelam seu indiferentismo e crueldade. E nós, que mostramos? Admiração?
Gratidão? Obediência?
Lucas 23.2 ensina-nos
as três acusações dos judeus contra Jesus perante Pilatos: 1) pervertendo a
nossa nação; 2) proibindo dar tributo a César; 3) dizendo ser Rei.
“Aqui relatam-se a
quarta e a sexta fase do processo de Jesus; seu primeiro e segundo
comparecimento perante Pilatos. Entre os versículos 14 e 15 vem a quinta fase,
o comparecimento perante Herodes (Lc 23.8-18). No Relatório do primeiro
comparecimento perante Pilatos (11-14) a coisa mais notável é o seu silêncio.
Ele respondeu ao governador que agia judicialmente, mas não aos sumos
sacerdotes e anciãos cujo procedimento todo era ilegal. Há ocasiões quando a
única resposta consoante com a dignidade e honra é o silêncio. Falar com certa
gente é rebaixar-se (Scroggie).
Barrabás ou
Cristo?(20-26). Barrabás tem o sentido ‘filho do pai’ (Jo 8.44), assassino
desde o princípio; e o outro, ‘Filho de Deus’. Que contraste entre esse notável
preso chamado Barrabás, que tinha feito insurreição e cometido homicídio (Mc
15.7), e o Santo de Deus – esse homem justo – com quem a mulher de Pilatos
sonhara (v.19)! O povo teve de escolher entre os dois, um para ser solto e
outro para ser morto. A mesma escolha é nossa hoje!
A crucificação
(32-56). Notemos a extrema barbaridade desses tempos em que a crucificação era
um suplício frequente, especialmente com castigo de escravos. “Os cidadãos
romanos eram isentos desta pena, em virtude de leis especiais”(Davis).
O incidente de Simão,
o cirineu (ou “lavrador”, O.129) é relatado por três dos evangelistas, mas
omitido por João.
“A cruz de Cristo é o
ponto central de toda a história: o universo gira em torno dessa cruz. Esta
tragédia é o maior dos trunfos; esse fracasso, o maior dos sucessos. Das trevas
vem vindo eterna luz; Jesus foi desamparado para que fôssemos amparados; Ele
foi ferido para que fôssemos sarados. Se Ele se tivesse salvado, não teria
podido salvar-nos. Se Ele tivesse fugido da cruz, nós pra lá teríamos de ir. Se
Ele não tivesse morrido na cruz, Barrabás teria morrido nela” (Scroggie).
É preciso notar que o
título na cruz (37) escrito em três línguas diferentes (e mais completamente em
uma do que nas outras) contém a acusação de ter desafiado a autoridade romana.
Jesus nunca falou em
ser desamparado pelo Pai, mas sendo “feito pecado” por nós, sentiu-se
abandonado por Deus (46).
E quem dirá o agrado
que, como Pai, achou Em Ti, Teu Deus, quando Ele a Ti desamparou?
O véu rasgado logo
após a consumação da obra expiatória, não era obra humana, pois os homens o
teriam rasgado de baixo para cima; nem foi propriamente para nós podermos
entrar, mas sim para Deus poder sair em bênção para a humanidade (v.51).
O estranho incidente
nos versículos 52,53 relatado somente por Mateus. Diz o dr. Goodman: “Este
acontecimento deu-se depois da ressureição, mas é ligado com a morte do Senhor,
sendo a lição, evidentemente, que somente na base do sangue derramado podem os
santos saírem do sepulcro”.
Não podemos afirmar
que o capitão romano e os soldados foram convertidos nesse momento tremendo,
mas foram convidados (como o carcereiro de Filipe antes de ser crente) e,
espantados, disseram que Jesus era “Filho de Deus”(v.54).
E as mulheres, de
longe, presenciavam tudo! (vv.55,56).
A sepultura de Jesus
(57-66) também correspondia com a voz profética (Is 53.9, V.B.). Vemos amor e
ódio em atividades com respeito ao corpo de Jesus. Devemos notar que a guarda
foi posta pelos chefes religiosos e não por Pilatos.
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