Podemos discernir
neste capítulo um novo começo. Jesus,
rejeitado por Israel (Jo 1.11), e tido por desvairado pela própria família (Mt
12.46; Mc 3.21), toma o caráter de um semeador que, não encontrando os frutos
que procura, semeia, e espera uma colheita futura.
Comentário de
Scofield:
No fim do capítulo 12
Jesus está dentro da casa; no começo do 13 ( mas no mesmo dia) já saiu e chegou
á beira-mar. No versículo 36 Ele volta para casa.
Jesus apresenta sete
parábolas: quatro á multidão, publicamente na praia, e três aos discípulos,
particularmente, em casa. Todas apresentam aspectos do reino; quatro têm
aspecto exterior e as outras três um aspecto mais íntimo.
As duas primeiras têm
a particularidade, de serem explicadas pelo próprio Jesus. Por isso não existe
dúvida sobre à sua interpretação.
Parábola do semeador
(1-9). Notemos:
a) Sementeira
abundante, sem economias; até mesmo cai alguma semente.
b) Terreno de uma só
qualidade – Não devemos imaginar diferentes terras no mesmo campo, mas terreno
em diferentes condições: Terra pisada pelo muito trânsito; terra rasa e
escassa, devido ao lagedo de pedra que
lhe fica por baixo; Terra previamente ocupada, com espinhos, etc,; Terra bom,
preparada para a semente: capinada, arada, regada.
c) A semente é sempre
a “palavra do reino” e hoje é o Evangelho da graça de Deus. O dr. Campbell
Morgan, e, mais recentemente, Alexandre Frazer, têm chamado atenção pra o caso
que “a boa semente são os filhos do reino”: pessoas, não as verdades do
evangelho. Pensam que isto deve-se entender na parábola do semeador tanto como
na do trigo e joio. Que fruto tem esta sementeira produzido em nós? O
evangelista é hoje o semeador, semeando alguma coisa de Deus revelado em
Cristo, e esperando ver os frutos: alguma coisa do caráter de Cristo nos seus
ouvintes.
Recentemente um
expositos notou que em Mateus a “semente” é a palavra grega “sperma”, ou
semente humana, e a interpretação se encontra no versículo 38, “a boa semente
são os filhos do reino”. Em Lucas 8 a “semente” é a palavra grega “sporos”, ou
a semente vegetal, e a interpretação está no versículo 11, “a semente é a
palavra de Deus”.
Ensinando por
parábolas (10-17). A linguagem é figurada, ocultando o sentido aos indiferentes
e ilustrando-o para os sinceros.
Um mistério (segredo,
v.11) é uma verdade outrora escondida mas agora divinamente revelada.
Comentário de Goodman:
O reino dos céus é
esse reino que há de ser estabelecido na terra.
O Senhor Jesus alega
três motivos por que Ele falou em parábolas.
1) “Porque a vós é
dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado”(11).
Um mistério é um segredo de Deus que não pode ser conhecido a não ser mediante
uma revelação. Mesmo quando revelado é muitas vezes incompreensível como, po
exemplo, o grande mistério da piedade (1 Tm 3.16); mas a fé regozija-se no fato
revelado, sem compreender como pode ser ( Mt 11.25). Quem são esses “vós” que
ouvem a revelação ? Certamente são aqueles que o buscam (Mt 7.8; Rm 2.7), e o
temem (SL 25.14), e que querem fazer a sua vontade (Jo 7.17). Ele não lança as
suas pérolas aos porcos.
2)Porque “aos que têm
dar-se-á”(12). Esta lei natural encontra-se também no mundo espiritual. O forte
aumenta suas forças; o sábio, sabedoria; o rico, a riqueza; enquanto os outros,
por falta de uso e exercício, perdem o que têm. Assim, quem ouve e observa a
Palavra de Deus, cresce, enquanto o preguiçoso deseja e nada tem. Ele é
preguiçoso demais para quebrar a casca (a parábola) e por isso não alcança a
noz (verdade).
3) “Para que vendo,
não vejam, e ouvindo, não entendam” (13-16). O Senhor aqui cita Isaías 6.9,10.
O profeta foi mandado declarar uma cegueira judicial sobre a geração pecaminosa
do seu tempo. Assim o Senhor adverte a geração má do seu tempo que, devido à
dureza dos seus corações, Deus lhes cegará os olhos.
Comentário de
Scroggie:
Parábola do trigo e
joio (24-30 e 36-43). Na primeira parábola a semente era só de uma espécie, ma
havia diferença nas condições do terreno. Agora o campo – o mundo- é um só, mas
há mistura de sementes.
A boa semente não é,
aqui, a palavra do Evangelho, mas o que o Evangelho produz: “os filhos do
reino”(v.38). Estes são semeados entre os homens, e Satanás semeia justamente o
“joio”.
O ensino é que não
podemos tirar o joio do mundo, embora muitas perseguições religiosas no passado
tentassem fazê-lo. Mas na igreja pode haver uma disciplina purificada.
Desta parábola
aprendemos que, quando Cristo age, Satanás opera também; que um dos seus modos
prediletos de agir é pela imitação; que ele opera ocultamente, e nós devemos
agir cautelosamente (29); que no fim tudo será acertado.
Comentário de Gray:
Parábolas da mostarda
e do fermento (31-35). A figura da semente ensina o rápido e anormal
crescimento da cristandade. As aves do céu simbolizam descrentes de diversas
classes que, por motivos de interesse, abraçam o cristianismo e acham abrigo
nos seus ramos. (Compare Daniel 4.20,22 e Apocalipse 18.2)
“O fermento representa
um princípio de corrupção, operando sutilmente. A figura do fermento é
empregada sempre com sentido ruim (Gn 19.3; Mt 16.11,12; Mc 8.15; 1Co 5.6-8,
etc) O ensino da parábola é que o Evangelho será misturado com o ensino falso,
que aumentará até o fim”.
“A mais pequena de todas
as sementes”(v.32). Tomadas ao pé da letra, estas palavras podem parecer
erradas, pois há muitas sementes menores que a mostarda, algumas, como as dos
fetos, tão pequenas que só podem ser vistas através do microscópio! Mas nosso
Salvador falava como galileu aos camponeses da Galiléia, e suas palavras,
conforme todos os ouvintes entenderiam, contêm a figura de elipse ou omissão,
significando simplesmente ‘ que é a menor de todas as sementes’ (usadas por vós
na agricultura)” (Neil).
Parábolas do tesouro escondido,
da pérola e da rede (44-58). Estas foram ditas aos discípulos em casa, e dão um
aspecto mais íntimo, menos evidente, do reino. O campo é o mundo (v.38) que o
homem (Cristo) comprou com seu sangue (2 Pe 2.1).
A pérola simboliza a
igreja, que o negociante (Cristo) comprou (Ef 5.25-33). “Um hino diz ‘Achei a
pérola de grande preço’, querendo dizer Cristo, mas isso pode não ser a
significação, a não ser que a salvação seja pelas obras. Que significam, pois
estas duas parábolas? Suponhamos que o
tesouro dá o aspecto plural e a pérola o
aspecto singular da mesma coisa, representando um os cristãos e a outra, a
Igreja, e sendo Cristo em ambos os casos. Certamente Ele sacrificou tudo por
amor da Igreja. Ele comprou o mundo para possuir a igreja; o preço foi o seu
sangue. Esta interpretação apresenta menor número de dificuldades” (Scroggie).
“A rede não é o
evangelho mas é uma figura do que acontecerá no fim, depois do arrebatamento da
Igreja” (Gabelein).
Propostas emendas de
tradução. No versículo 32 leia-se “é maior que as hortaliças”. No versículo 36
“tendo despedido” como A. e não “tendo deixado” como na V.B.(R 195). Nos
versículos 39 e 40 ler “fim da época” em vez de “fim do mundo”.
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