Outra vez o capítulo
divide-se em quatro partes, que podemos resumir em quatro palavras: milagres,
escolha, blasfêmia e família.
Uma cura e muitas
curas (1-12). Aprendemos: que mesmo na casa de oração pode haver alguém
imprestável para qualquer serviço; que esse tal, em contato com o Salvador,
pode ser habilitado; que fazer bem é lícito em qualquer ocasião; que corações
endurecidos se encontram numa sinagoga; que o mal, às vezes tem de ser exposto
para ser curado (5); que um espírito imundo pode saber muitas coisas.
“A necessidade humana
é manifestada mais evidentemente no incidente do homem que tinha a mão mirrada.
Os judeus queriam restringir, pela sua interpretação da lei do sábado, as
manifestações do poder divino em prol das misérias de que o mundo estava cheio.
Então a lei era para não fazer o bem? Para deixar a morte prevalecer, ou para
conservar a vida? Os fariseu ficaram obstinadamente silenciosos. Então Jesus
ficou indignado pela dureza dos seus corações, e invocou o poder divino para
testificar contra eles. Os inimigos de Jesus ficam confundidos, mas não
convencidos, e essa inimizade uniu fariseus e herodianos para o destruírem”
(Grant).
A escolha dos doze
(13-18). Aqui temos preciosas indicações do “preparo para o ministério”, a
saber: Ouvir a chamada de Deus e obedecer
a ela; estar junto dele num lugar retirado; sentir-se mandado por
Ele a pregar; receber do próprio Jesus todo o poder para o serviço.
“Jesus escolhe doze
apóstolos, para comunhão: ‘para que estivessem com Ele’, para serviço: e os
mandasse a pregar”(14). Isso é sempre a ordem divina. Nada adianta sair e
pregar se não se tem estado primeiro com Deus. Primeiro solidão, depois
serviço; primeiro aparelhamento, depois empreendimento; primeiro comunhão,
então comissão; primeiro preparação, então pregação. Devemos tomar o tempo
necessário para nos aprontar para o
trabalho; também aprender a servir junto com outros. Imaginemos os Doze em
treinamento por, provavelmente, dois anos! Cristo não quer trabalhar sem nós
outros: por que, então, tentar servir sem Ele?”
A blasfêmia dos
fariseus (20-30). Este trecho revela várias contrariedades, começando com os
próprios parentes de Jesus (21). A contradição aqui atribuída aos escribas é
referida aos fariseus em Mateus e a alguns em Lucas.
A melhor explicação
que temos encontrado da blasfêmia contra o Espírito Santo foi dada por G.
Goodman. ‘É culpado de um pecado eterno’, é como a V.B. traduz este solene
versículo 29. Que significa isto? Como muitos têm sido perturbados e mesmo alarmados
seriamente por esta expressão do Senhor, pensemos a respeito: 1) Não é ela para
perturbar a consciência impressionável, pois ter uma consciência sensível é
estar na condição espiritual
diametralmente oposta. O blasfemo aqui referido é uma pessoa cuja consciência
está cauterizada como que por um ferro em brasa. 2) Não se refere a alguém cair
em tentação, a um simples pecado ou pecados; é mais uma atitude de espírito do
que um ato. 3)não significa uma simples palavra irrefletida ou descuidada,
embora blasfema, porque blasfêmias e pecados semelhantes podem ser perdoados
(v.28). 4) Não significa meramente atribuir a obra de Cristo ao poder de
Satanás, como no caso citado. Esse era um sintoma, e não o próprio crime. Foi
porque os escribas fizeram isto que Cristo apontou o perigo em que estavam
(v.30). O pecado eterno é a atitude de quem, propositadamente, e em desafio à
luz e ao conhecimento, rejeita, e não somente rejeita mas persiste em rejeitar
os esforços do Espírito Santo e a graça de Deus oferecida no Evangelho. Tal
estado para quem nele permanece sem arrependimento, exclui o perdão, porque é o
pecado para a morte referido em 1 João 5.16. Isto expressa o que Cristo ensinou
em João 3.18. “Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo e os homens amaram
mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más”. Pecar contra a luz é
uma coisa solene e fatal; continuar nessa carreira é perecer finalmente. Em
qualquer tempo que haja um desejo verdadeiro de andar direito e um anelo pela
paz com Deus, há a resposta da graça. “Há perdão contigo, para que sejais
temido”, porque o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado; somente não
há esperança quando aquele sangue é calcado debaixo dos pés, em desrespeito ao
Espírito da graça (Hb 10.29).
“Pode alguém hoje cometer o pecado imperdoável? Isto ao menos é
certo: quem pensa tê-lo cometido, certamente não o fez, porque quem o tiver
feito não tem semelhante receio”(Scroggie).
Um parentesco
espiritual (31-35). No versículo 32 devemos ler: “Porque a multidão estava assentada
ao redor dele”(O.5).
Os irmãos e a mãe de
Jesus não manifestam compreensão alguma do seu ministério, e querem chama-lo
para fora. Por isso o Filho de Deus aponta um parentesco mais sublime e
espiritual, com “qualquer que fizer a vontade de Deus”
“Jesus não veio para
destruir as relações terrenas, mas para resguardá-las. Veio também para mostrar
que as relações espirituais são soberanas. Parentesco natural é passageiro, mas
parentesco espiritual é eterno. Jesus
não despreza sua mãe, mas põe em primeiro lugar o seu Pai”(Bengel).
Quando o natural e o
espiritual rivalizam-se no nosso coração e na nossa vida, é fatal ceder ao
natural. (Leia-se Lucas 9.59-62 e 14.26). É duro ser mal-entendido pelos
parentes, mas a lealdade a Cristo pode tornar isso inevitável (Jo 7.5).
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