quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

MARCOS CAPÍTULO 8

A segunda multiplicação de pães (1-9). Podemos notar que a primeira é narrada por todos os quatro evangelistas; a segunda só por Mateus e Marcos. Marcos acrescenta as palavras “alguns deles vieram de longe” (v.3).
“Note-se, entre outras coisas: que Jesus quis ocupar seus discípulos com as necessidades materiais do povo; que Ele sentia ‘compaixão’ pela multidão faminta; que seus discípulos pouco tinham aprendido com o milagre anterior, embora fosse no mesmo lugar e nas mesmas condições; que Jesus nos deu o exemplo de dar graças antes de comer (o apóstolo Paulo fez a mesma coisa, na presença de descrentes – At 27.35); que o alimento era suficiente para todos comerem bem (v.8)
“Decápolis era a região que ficava ao sul e sudeste do lago de Tiberíades, e continha as dez cidades que deram o nome ao distrito (Decápolis significa dez cidades)”.
“Depois de alimentados os 5000, levantaram-se doze cestos de pedaços, e depois dos 4000, sete cestos. A palavra traduzida ‘cestos’ não é a mesma. Os 4000 deixaram sete ‘spuridas’ e os 5000 doze ‘Kofinon’. Estes eram cestos de mão, aqueles (os sete) grandes balaios suficientes para conter um homem. Paulo foi arriado pelo muro em um deles (At 9.25)”.
Duas vezes Jesus alimentou a multidão e ambas as vezes em circunstâncias semelhantes e da mesma maneira. Em ambas as narrativas há gente com fome, um lugar deserto, discípulos perplexos, mantimentos escassos, a ordem de sentarem-se, ações de graças, festa, sobra, e despedida. O contraste é entre um dia e três dias, 5000 e 4000, cinco pães e dois peixes, sete pães e alguns peixes, doze cestos e sete balaios.
“Quão pouco progresso os discípulos tinham feito no entendimento! As poderosas intervenções dos tempos passados fogem-lhes à memória. Cada nova dificuldade parece-lhes invencível; cada nova necessidade os leva a supor que as maravilhas da graça divina se esgotaram (Trench). Porventura somos também assim? Ou a nossa passada experiência de Deus ajuda-nos a enfrentar as novas situações com coragem e confiança? Posso acreditar que Cristo tenha visto nestes dois milagres uma figura da iminente paixão. Ele era o pão partido para satisfazer a fome do mundo. O leitor já tomou parte na festa?” (Scroggie).
Pedindo sinais. As partes de Dalmanuta (10-21). Supõe-se que Dalmanuta era uma vila a leste do mar da Galiléia e perto de Magdala.
Devemos comparar este trecho com Mateus 16.1-4 para saber que Jesus se referia aos sinais dos tempos em resposta ao pedido malicioso dos fariseus. O fermento dos fariseus e de Herodes (15). Há males progressivos que permeiam tudo em redor. Por isso Jesus emprega a figura do fermento: um princípio ativo que, em pouco tempo, leveda toda a massa.
O fermento dos fariseus era a hipocrisia: uma religiosidade exterior e inútil. O dos herodianos era o mundanismo; a política. O dos Saduceus (Mt 16.6). a incredulidade e materialismo. Todos os três são males que se alastram, corrompendo a massa toda.
Neste pequeno discurso com os discípulos Jesus faz-lhes dez perguntas e obtêm duas respostas.
A cura de um cego de Betsaida. (22-26). Existe uma dúvida sobre se a Betsaida da Bíblia é a mesma Betsaida- Júlias ao norte do mar da Galiléia, ou outro lugar do mesmo nome a leste (perto deste lago), de Corazim e Cafarnaum (Mt 11.21,23; Jo 12.21).
Este milagre é narrado só por Marcos. É uma das poucas curas demoradas que Jesus fez. O primeiro contato do Homem com Cristo não teve resultado completo. Conosco pode dar-se coisa semelhante.
Devemos notar o empenho, a simpatia e o trabalho de Jesus com este cego, tomando-o pela mão e levando-o para fora da aldeia. Tantas vezes Ele curava com uma palavra, mas agora se ocupa com um serviço prolongado.
Podemos entendes que Deus dispõe de tempo para atender às nossas necessidades.
“Vemos Cristo acomodando o ‘posso’ do seu poder à debilidade da fé do cego... Foi curado lentamente porque creu lentamente. A sua fé era condição da sua cura, e a medida dessa fé determinava a medida da sua restauração”(Maclaren).
“Aqui são narrados sete atos do Senhor. 1) Tomou o cego pela mão, isso para levá-lo fora da aldeia. Podemos aprender disto que, para sermos verdadeiros iluminados, devemos submeter-nos a ser guiados. Por seu Espírito, Cristo nos guiará em toda a verdade. 2) Levou-o para fora da vila, como se tivesse dito “saí do meio deles e apartai-vos, e não toqueis coisa imunda (2Co 6.17). A separação é necessária para que haja gozo espiritual. 3) Cuspiu nos seus olhos. Tem havido várias explicações disto. Talvez fosse “como processo medicinal, não eficaz em si, mas feito eficaz por energia divina”(Weiss). Vemos o emprego do cuspe em (Marcos 7.33 e João 9.6-14).
Impôs-lhes as mãos, um símbolo de comunhão e comunicação de saúde e poder, aqui um ato de compaixão divina. 5) Perguntou se via alguma coisa, mas o homem enxergava mal ainda. 6) Impôs-lhe as mãos outra vez. 7)Mandou-o levantar os olhos” (Goodman).
No versículo 26 leia-se “Não entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”. (C.C. 273).
A confissão de Pedro (27-33). Já consideramos este incidente no nosso estudo de Mateus 16. Observamos Jesus ocupado em despertar a compreensão dos discípulos a respeito dele mesmo. Para um judeu piedoso o reconhecimento de Jesus como messias prometido era de suma importância. Alguém pode interrogar a qualquer um de nós sobre o que Jesus significa para nós, e como responderíamos? Este incidente é relatado mais detalhadamente em Mateus 16.13-23.
Jesus prediz a sua morte (31). Para os discípulos parecia tão incompreensível que Pedro o repreendeu. Devemos notar que Jesus faz a predição da sua morte depois de convencer os discípulos da divindade dele. Se tivessem conservado na sua memória essa sublime verdade, não teriam ficados tão desanimados pela sua morte.
Neste trecho temos: 1) A confissão. 2) A repreensão. 3) A advertência.
1) A confissão. Antes de ouvirmos a confissão de Pedro vamos notar alguns pareceres errados referentes a Cristo, pareceres que lhe atribuem algum bem, mas não acertam com a verdade.
Que dizem hoje de Cristo? Um homem bom, exemplo perfeito, mártir inocente, mas a verdade é outra: Ele é o Salvador único e divino. A confissão de Pedro importava em:
a) cumprimento de profecia (Dt 18.15, etc.);
b) propósito divino (Cristo significa ungido);
c) verdade reservada (v.30);
d) a esperança do mundo.
2) A repreensão. Pedro que repreende, é repreendido. Notemos em Pedro:
a) pouca prudência;
b) falta de discernimento;
c) coragem mal-empregada;
d) falta de respeito.
3 A advertência de Jesus aos discípulos ensina-lhes:
a) o que é necessário para seguir a Cristo;
b) que o amor de Deus deve ser o supremo motivo;
c) Que perder a vida pode ser lucro, e ganhar o mundo, prejuízo;
d) que o homem pode “resgatar” a sua alma (psyche: vida ou alma);
e) que envergonhar-se agora de Cristo terá consequências tristes no porvir.
Levando a própria cruz (34-38). Para entendermos o ensino de Jesus a respeito devemos notar que esse ensino segue a predição da sua morte. É como se dissesse: “Este mundo não somente matará a mim, mas vós também não deveis esperar outra sorte, se fordes fiéis em seguir meu exemplo e ensino”. (Veja-se porém sobre Mateus 16.24-28).
“Negar-se a si mesmo”. Quando Pedro negou seu Senhor, ele disse: “Não conheço esse homem”. Quem puder falar assim a seu próprio respeito sabe o que significa negar-se a si mesmo. É muito natural pensar: “O que, então, será de mim?” É muito espiritual pensar; “Como servirá isso à vontade do meu Senhor?”.
Notemos que a palavra grega psyche nos versículos 35-37, traduzida por Almeida duas vezes “vida” e duas vezes “alma”, é sempre “vida” na V.B.
Devemos pensar o que significa “perder” a nossa vida. Uma vida perdida é uma vida não aproveitada com vantagem. Uma vida preocupada com vícios, prazeres, interesses materiais, e glórias humanas, é perdida.
Contudo, o mundo julga “perdida” (35) uma vida dedicada a Deus.
O Senhor Jesus considera o caso de alguém ganhar “o mundo todo” – ter infinito lucro material – e contudo não ter uma vida abundante, transbordando da bênção divina.
A mais real satisfação na vida não está em adquirir, mas em criar, e, contudo, vemos a maioria empenhada em adquirir – um empenho que nunca satisfaz.

Não é possível reaver uma vida perdida (v.37).

MARCOS CAPÍTULO 7

O mandamento de Deus e as tradições dos homens (1-23). Aprendemos deste trecho: que o cristianismo é uma religião espiritual e não formal; que a verdadeira contaminação é do mal sai do coração, não do alimento que entra pela boca.
É fácil haver uma religiosidade exterior que faz muita questão de ritos e cerimônias, da distribuição do cálice do Senhor em um ou mais copos, da atitude do corpo em oração, mas que não se preocupa com o estado do coração.
Podemos ter quase a certeza de que, na medido em que alguém se preocupa com coisas materiais, deixa de apreciar os valores espirituais. Alguns chegam a ponto de excomungar os crentes mais espirituais, uma vez que estes não usam os mesmos ritos e cerimônias.
Podemos considerar quatro pontos:
1) Qual foi a tradição dos anciãos.
2) Qual foi o costume dos discípulos.
3) Como os fariseus comentaram o caso.
4) Como Jesus vindicou seus discípulos.
(Matthew Henry).
Notemos que grande parte da religião dos fariseus consistia em censurar os outros. Vieram de Jerusalém, uma viagem de muitas léguas, não para aprender, mas para criticar.
A explicação dos versículos 1-4 mostra que Marcos não escreveu para os judeus, que já sabiam seus próprios costumes.
“Que seja um corbã (uma oferta dedicada a Deus v.11), assim permitindo a um filho mau alegar que seus bens eram dedicados a Deus, e por isso não disponíveis para sustentar seus velhos pais.
O fim do versículo 19 tem sido muito discutido pelos instruídos. Alguns preferem a tradução como na V.B. “isto disse, purificando todos os alimentos”, mas não é certo que deve ser traduzido assim “Isto disse” não estão no grego.
“O Senhor explica que o processo de comer, ainda que sem a cerimônia de lavar as mãos, à qual os fariseus davam tanta importância, não contamina o homem. Embora algumas partículas de impurezas fossem ingeridas, tudo seria purgado na ordem natural, e o homem não ficaria pior” (Goodman).
“Marcos salienta mais que Mateus a escrupulosidade religiosa que se preocupa com o exterior, as lavagens, cerimoniais de mãos, copos, vasilhas, leitos – uma coisa enfadonha e sem proveito espiritual. Deus, pela pena de Isaías (29-13), havia caracterizado isso como mero externalismo sem coração. Mandamentos humanos pretendendo autoridade divina – uma coisa tão essencialmente oca que o Senhor a denuncia como Hipocrisia” (Grant).
A mulher cananéia (24-30), Tiro era uma cidade de gentios, e a mulher era estrangeira. Neste incidente consideremos:
1)A menina sujeita a um poder diabólico, sofrendo um mal que os médicos não sabiam curar; figura de moças de hoje que não se submetem a vontade de Deus.
2) A mãe da menina, provavelmente viúva, empenhada pelo bem da filha, e persuadida a recorrer a Cristo.
3) O Salvador da menina, aparentemente indiferente ao mal, parecendo menos misericordioso que os discípulos, mas querendo desenvolver a fé da mulher e instruí-la a contar plenamente com a sua misericórdia.
4) A cura da menina. Vemo-la agora, em vez de aflita, tranquila; em vez de exaltada e irritada, cheia de gratidão; em vez de sentir o poder do maligno na sua vida, experimenta o poder e a graça de Cristo.
A cura do surdo e gago (31-37). É relatada somente por Marcos. Podemos achar nos benefícios que Cristo trouxe ao corpo dos doentes figuras das bênçãos que Ele quer trazer ao nosso espírito. Quem é espiritualmente surdo ou gago? Quem escuta bem a voz de Deus e fala claramente com Ele?
Notemos  neste milagre: a localidade. Decápolis (“dez cidades”) fora da Terra Santa, entre os gentios; o empenho dos amigos que trouxeram o surdo a Cristo; o pedido dos amigos; o silêncio do doente; numa semelhança com a cura do cego em 8.23, Jesus usa um processo em vez de simples palavras.
Jesus toma o homem à parte da multidão: a preocupação com a gente em redor pode, às vezes, impedir o recebimento da bênção divina.
Não nos esqueçamos de que Jesus levantou os olhos ao Céu, como que confessando que o ato de misericórdia que ia praticar era de acordo com a vontade divina. Ele suspirou, pensando, talvez, nos milhares que não procurariam a sua graça – ou talvez sabendo que o homem podia deixar de usar da melhor maneira a bênção recebida.
O que Jesus fez devia ter explicado ao doente (que não podia ouvir) o sentido da sua oração silenciosa, com os olhos levantados ao Céu. Assim ensinou ao doente que o benefício suplicado havia de vir dos céus.

“E ordenou-lhes que a ninguém dissessem”(v.36). Por que? Quando nada, Jesus não ambicionava publicidade; mas as maravilhas que fez não podiam ser escondidas: “Quanto mais lho proibia, tanto mais o divulgava”. 

MARCOS CAPÍTULO 6


Um profeta sem honra (1-6).  Jesus volta a Nazaré, onde fora criado, e onde, com certeza, assistira sempre ao serviço da sinagoga. Mas agora Ele começa a ensinar ali (v.2) e dá ensinos preciosos, que vemos mais detalhados em Lucas 4.18-22.
Mas os ouvintes estranham que um *carpinteiro “se tenha tornado pregador”, e alguns, em lugar de atender ao ensino, criticavam o ensinador.
* “Operário”, ou antes, “construtor” parece-nos dar melhor o sentido do grego “carpinteiro”. A palavra Tekton não se encontra em outra parte do N.T., mas Paulo se chama archi-tekton (donde vem à palavra arquiteto) em 1 Co 3.10. Tekton empregava-se frequentemente, mas nem sempre, para oficiais em construções em madeira. Notemos as várias alusões nos evangelhos à construção de casas (A.C. Deane).
Notemos as cinco perguntas (vv.2,3). Há também uma incredulidade que resulta de familiaridade (vv. 3,6); a própria família é, às vezes, quem menos aprecia: Jesus, rejeitado na cidade percorre as aldeias.
Os irmãos de Jesus (v.3). Se estes “irmãos” (Mt 12.46; Gl 1.19) eram ou não filhos de Maria é um ponto muito debatido. Podemos entender que a linguagem favorece a ideia, e que não é necessário atribuir a Maria uma completa esterilidade depois do nascimento de seu primeiro filho.
O romantismo, querendo honrar a virgem, ensina que o casal não tinha filhos, mas, segundo o ensino do V.T., isso, em Israel, não era tido por honroso (Gn 25,21; 29,31; Dt 33.24; Sl 127.3,4; Lc 1.7).
Podemos contrastar os poucos enfermos curados do versículo 5 com os muitos curados do versículo 13.
Os doze enviados (7-13). Em 3.14 Jesus chama os doze para estarem com Ele, sendo assim, preparados para se tornarem mensageiros. Ele agora envia-os de dois em dois. Consideremos algumas vantagens desta associação em serviço: a) Se um tropeçar, o outro poderá apoiá-lo. b) Podem combinar em oração e assim melhor discernir qual seja a vontade do Senhor. c) O testemunho de cada um é reforçado pelo outro. d) Podem encorajar e admoestar um ao outro. e) Podem trocar impressões da Palavra de Deus.   f) Podem estimular um ao outro ao amor e às boas obras (Hb 10.24).
Mas por serem dois, precisam: de longanimidade, tolerância, paciência, aptidão para apreciar o ponto de vista do outro; da humanidade que não insiste na própria vontade, do amor fraternal que considera o bem do seu irmão.
Notemos que “três a três” não traz as mesmas vantagens de dois a dois. Pelo contrário, às vezes acarreta grandes inconvenientes.
Embora “dois a dois” seja o ideal para o serviço cristão, é preciso, muitas vezes, devido às circunstancias contrárias, empreender um serviço isolado, ou continuar sozinho quando desaparece o companheiro.
“Para todo o programa da missão dos doze, consulte-se Mateus 10.5-42, notando: a esfera da sua missão; o tema da sua pregação; as suas credenciais; seu aparelhamento; a sua maneira de chegar às casas, e o seu procedimento nas casas e nas vilas”.
No versículo 8 leia-se: “nem saco para esmolas” (J.237)e “nem bordão”, e no versículo 9: “nem alparcas” (O.143).
A morte de João Batista (14-29). Podemos notar em toda a história e influência maléfica de mulheres iníquas. “Sob a sua influência os reis têm se tornado ignóbeis, e déspotas; benignos têm se tornado monstros e assassinos”.
Uma das lições principais deste incidente é a iniquidade de fazer uma promessa sem a condição essencial: “Se Deus quiser”.
O crente é um ‘servo de Jesus Cristo’ (1Co 7.22) e o escravo não dispõe de nada, nem de si mesmo (em casamento, por exemplo) sem consultar a vontade de seu Senhor.
No versículo 14 leia-se; “por isto estas maravilhas são feitas por ele” (O.98). No versículo 20 “e guardava {em memória} muitas coisas que ouvira dele, e de boa mente o ouvia” (O.155).
No versículo 27, em vez de “executar” (como em Alm.) leia-se “soldado da sua guarda” (como na V.B.)
“Herodes sabia mais do que quis fazer (v.20) e nisto era semelhante a muitos outros. É uma tragédia ter ideias nobres e costumes baixos; sublimes pensamentos e hábitos degradantes. Porventura a sua vida é uma unidade sublime ou uma patética contradição?” (Scroggie).
A primeira multiplicação dos pães (30-44). Uma lição deste trecho é a necessidade de descanso e tranquilidade. Jesus (v.31) considerou esta necessidade, e providenciou. Contudo, parece que o descanso foi logo interrompido (v.33).
Outra lição é que o pouco pode ter muito valor, com a bênção de Deus. Que alimento espiritual temos nós que podemos repartir com nossos semelhantes?
Supõe-se geralmente que o versículo 44 significa “em cem filas, com cinquenta pessoas em cada uma”. Isto combina com Lucas 9.14,15. Assim a contagem seria fácil e 50 X 100 dá 5000.
“Notemos alguns pontos neste milagre: a) O versículo 36 mostra a simpatia dos discípulos e também a sua falta de fé. Eles sentiam a necessidade do povo, mas nunca pensaram em supri-la; e quando Jesus propôs-lhe que fizessem, perceberam somente dificuldades (37). Quão facilmente levantamos dificuldades!  b) Jesus serve-se sempre dos meios disponíveis (v.38). c) Em todo o serviço do Mestre havia método (39,40): “Fazei tudo com decência e ordem”. d) Jesus pediu a bênção divina sobre a refeição (41). Notemos que Ele tomou o alimento, levantou os olhos, deu graças, quebrou o pão e o distribuiu. É possível que umas 20000 pessoas tenham sido alimentadas milagrosamente nessa ocasião”.
Jesus anda sobre o mar (45-52). Tanto o capítulo 4 como o capítulo 6 relatam um incidente marítimo:
Os discípulos embarcados, e uma tempestade no pequeno mar da Galiléia. (Veja-se no mapa)
Na primeira vez Jesus estava com eles na barca, e na segunda, estavam sozinhos, e Ele, no alto, orando.
O primeiro incidente pode representar os tempos passados; o segundo, o período atual. Jesus agora está lá no alto, intercedendo, mas a fé do verdadeiro discípulo considera-o sempre presente, e superior às ondas da tribulação.
“Este incidente é história, parábola e profecia. Nosso Senhor lá do alto, orando por nós, vê como são contrários os ventos, e, na vigília que termina a noite, Ele virá a nós, e nos levará à praia. Renovado pela oração da montanha, Jesus volta ao seu trabalho na planície (53-56) e os que o tocam são sarados”.

Notemos o empenho de Jesus em servir às necessidades físicas do povo (vv.53-56). Notemos também como todos os necessitados se sentiam atraídos a Ele, e em seguida provaram que “Cristo Salva”.

MARCOS CAPÍTULO 5


O endemoninhado gadareno (1-20). Thompson em The Land and the Book, entende que Mateus aponta, como sendo o lugar onde este incidente se deu a aldeia de Chersa ou Gergesa, à beira do lago.
A província dos gadarenos (habitantes de Gadara) ao leste do mar da Galiléia, era fora da terra Santa, e sob o domínio dos gentios. Aprendemos deste milagre de cura:
1) Que espíritos imundos são capazes de dominar um ser humano. O espiritismo pode oferecer-nos hoje alguns exemplos de semelhante obsessão.
2)Que uma pessoa  sob tal maléfico domínio torna-se incompatível para a sociedade de gente civilizada.
3) Que tal pessoa fica sem sossego, sem paz; perigosa, indomável.
4) Que na presença de Jesus, o homem se sentiu atraído e repelido. Atraído, talvez, pela graça e compaixão do Salvador, e repelido pela santidade que reprovava a sua impureza.
De Jesus notamos:
1)Que, na presença dos poderes diabólicos, sendo reprovado por eles, reprovou imediatamente esses espíritos imundos.
2) Que a sua presença inspira respeito, até dos perdidos.
3) Que exigiu uma ampla confissão do nome e estado do possesso (v.9)
4) que, sendo rogado a retirar-se, foi imediatamente.
5) Que recusou levar consigo o homem  curado, porque este devia primeiro testemunhar aos seus (v.20)
O Dr. Scroggie dá as seguintes divisões:
1)Uma criatura miserável (1-5).
2) Um Salvador poderoso (6-10).
3)Um pânico entre porcos (11-13).
4) Uma grande sensação (14-17).
5) Um servo obediente (18-20).
Notemos os quatro pedidos: do endemoninhado (v.10); dos demônios (v.12); dos gadarenos (v.17); do homem curado (v.18).
“Temos um quadro do homem curado, ‘assentado, vestido e em perfeito juízo’. Passaram o desassossego, a veemência, a paixão. A vergonha da sua nudez está coberta, ele tornou em si mesmo e tem juízo perfeito. Porventura pode haver um juízo perfeito sem que se venha a Cristo?
“Mas o mundo é um mundo caído, e Satanás o seu príncipe. Aqui vemos como isto chega a ser. Esses que rogam a Cristo que se vá, verão o Diabo ficar. O Senhor nos explicou como uma casa varrida e adornada convida a uma visita dessa natureza. Rogam a Cristo, cortesmente, que se vá, pois é possível alguém rejeitar ao Senhor com bons modos; e Ele vai mesmo.
“Mas o homem libertado tem outros pensamentos. A graça divina tem operado no seu coração, e a libertação de que ele tem sido objeto é uma grande realidade. Roga permissão para ficar com Jesus, mas o Senhor tem outros propósitos a seu respeito: “Vai para a tua casa, para teus parentes, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti”. Assim o pecador salvo é feito testemunha da salvação que recebeu no mundo onde Cristo tem sido rejeitado. “E ele foi, e começou a publicar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera” (Grant).
A mulher com fluxo de sangue (21-34). Notemos dela: os anos do seu padecimento; os esforços inúteis para conseguir uma cura (Lucas, o médico, refere que ela gastara com os médicos, mas não conta que ela padecera com eles); o esgotamento dos seus recursos; o desenvolvimento da sua moléstia (v.26); o evangelho que ouviu (v.27); o esforço que fez; o caráter da sua fé (v.28); a rapidez da sua cura; seu susto (v.33). Para entender “a orla do seu vestido” consulte-se Números 15.38.
Segundo Levítico 15.19, o contato com a mulher imunda contamina; mas Jesus ao invés de ser contaminado pelo mal, curou-a.
O Dr. Scroggie marca as seguintes divisões: sua necessidade (v.25); seus desapontamentos (v.26); sua esperança (v.27); seu esforço (v.27); seu contato com Cristo (v.28); sua recompensa (v.29); seu medo (v.33); sua confiança (v.33); sua confissão (v.33); sua salvação (v.34).
Notemos a diferença entre a mulher e Jairo. Este um homem, aquela uma mulher; este interessado na necessidade de outrem, aquela na própria necessidade; este abastado, aquela pobre; este veio abertamente, aquela secretamente; este pediu a bênção, aquela tentou furtá-la. Mas ambos obtiveram seu desejo porque Cristo era a sua única esperança.
A filha de Jairo (35-43). Entre as lições que este incidente ensina, notemos: a) que uma interrupção pode ser uma prova de fé. Visto que a menina estava nas últimas, a demora com a mulher doente deve ter afligido bastante o pai da criança; b) que Jesus, ao receber a notícia do falecimento da criança, apressou-se a reanimar o pai: “Não temas! Crê somente!”; c) que o Salvador corresponde à medida da fé do indivíduo; quem crê que um mero contato trará saúde, prova que assim é (v.28); quem sente a necessidade da presença do Salvador na sua casa (v.23) terá Cristo ali consigo; quem conta que uma palavra de Jesus será suficiente (Mt 8.8), prova que até isto basta.
A palavra “a menina não está morta, mas dorme” não quer dizer que ela não tinha realmente falecido, pois Lucas 8.53 dá a certeza disso. Mas para Jesus – e para o crente- a morte é parecida com um sono, do qual a voz divina acorda o que dorme (At 7.60; 1 Ts 4.13,14).
As palavras “Thalitha cumi” são da língua aramaica.
Depois de a palavra do Senhor Jesus ter dado vida à menina, era mister o cuidado dos pais em alimentar essa vida (v.43). “As palavras provam que a menina tinha agora perfeita saúde, a ponto de ter apetite. Embora recebesse vida por um poder extraordinário, devia ser alimentada por meios comuns. O conselho de um pagão sobre outro assunto é aplicável: ‘nec Deus intersit, nisi dignus vindice nodus inciderit’. (Quando o poder milagroso de Deus é necessári, que seja procurado; quando não é preciso, que se empreguem os meios comuns.) Agir de outro modo seria tentar a Deus” (Treasury).
Podemos notar os mesmos doze anos da doença e da vida da criança. Por doze anos a mulher ficando cada vez mais fraca; por doze anos a menina ficando mais robusta, até que lhe sobreveio uma doença repentina. Então, no momento de extrema necessidade, as duas encontraram seu recurso suficiente e completo em Cristo.
Na bíblia há somente sete casos são de crianças. Elias levantou o filho da viúva de Sarepta (1Rs 17.19-24); Eliseu, o filho da mulher sunamita (2 Rs 4.34-37). A maneira de ressuscitar a criança em cada caso é instrutiva. Elias estendeu três vezes sobre o menino e pôs a boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele, e curvou-se sobre ele, transmitindo-lhe calor à carne.

Quão diferente o procedimento do Senhor Jesus! “Tomando a mão da menina, disse-lhe Thalitha cumi”. Ele era maior poderoso do que a morte. Mas em ambos os casos houve contato.

MARCOS CAPÍTULO 4


A parábola do semeador (1-20). Para alguns pensamentos referentes a esta parábola, consulte-se o comentário de Mateus 13. Marcos acrescenta no versículo 7 as palavras “e não deu fruto”.
Note-se que na Bíblia “as aves do céu” quase sempre têm mau significado.
Qual é a sementeira que Deus tem semeado na vossa alma, e qual o fruto?
Notemos que o semeador é um: Deus (ou seus servos); a semente é uma: a palavra que declara Deus revelado em Cristo; mas há um adversário – Satanás (ou seus servos) que tira (de que modo?) a palavra semeada no coração.
Muitas vezes no seu ministério o Senhor Jesus repetiu as palavras “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (v.9) Esta parábola pode ser chamada a dos ouvintes que não ouviram. O Filho de Deus é o Semeador, a semente é a Palavra, que, semelhante á semente, tem vida em si, e, quando as condições são favoráveis, nasce e produz fruto.
Notemos três pontos na parábola: 1) As coisas que impedem o ouvir. Estas são o caminho (desleixo e indiferença), o pedregulho (a mente sem propósito e perseverança), os espinhos (o amor dos prazeres e outros deleites). Tais ouvintes nunca realmente ouvem. A verdade não pode fazer nada com eles. No primeiro caso, as aves consomem a semente; no segundo, o sol queima-a; no terceiro, os espinhos sufocam-na. 2) O coração que realmente ouve, é chamado de honesto e bom (Lc 8.15). Os tais ouvem a palavra, isto é, com o ouvido da fé, recebem-na (20). 3) Os resultados são diversos, em proporção à realidade do ouvir; alguns trinta, outros sessenta e ainda outros cem por um. Esse fruto não é produzido de uma só vez, mas representa o costume de uma vida inteira. Bem aconselhou-nos o Senhor: “Atendei ao que ouvis” (v.24, V.B.) e “vede pois como ouvis”(Lc 8.18), pois nem toda pregação é boa semente, e há diversas espécies de ouvintes (Goodman).
A parábola da candeia (21-25). Não se encontra em Mateus, mas aqui e em Lucas somente. Ensina que, tendo sido iluminados pela verdade de Deus, somos responsáveis por difundir essa luz entre os nossos semelhantes. O alqueire representa os cuidados e interesses materiais da vida: cama, os confortos. Devemos cuidar que nosso testemunho não seja impedido por um ou outro (Gray).
A semente cresceu ocultamente (26-29). O homem (26) não é Cristo, pois nem tudo que se diz dele é aplicável ao Senhor. Este não dorme, nem acorda; e Ele “sabe como” (27). Aplica-se, porém, ao servo de Deus que sai levando a preciosa semente.
A semente é lançada na terra. Os que desejam ceifar precisam semear primeiro (Sl 126.6)
O semeador não pode fazer mais nada do que isto. Ele dorme de noite e acorda de dia, e não se aflige pelo resultado de sua sementeira.
A semente nasce sem ele saber como. Quem poderá explicar o mistério da maneira pela qual a verdade de Deus opera na mente dos homens?
A obra da fé passa por determinadas etapas. Não esperamos fruto maduro do recém-nascido. Primeiro a erva- o primeiro amor, o zelo do principiante, os desejos por bens espirituais-, depois a espiga – o vigor da juventude espiritual (1 Jo 2.14). Afinal, o grão cheio- o cristão desenvolvido, a graça madura, a plena experiência (Goodman).
“Esta parábola do progresso, manifestação e consumação da vida divina na alma. Uma vez lançada na terra a semente está fora do campo de ação do semeador. Ele se foi embora, mas entram em cena influências que operam até que o fruto apareça por ocasião da ceifa”(Scroggie).
Esta é uma das parábolas que achamos somente em Marcos. A outra encontra-se em 13-34.
Dormindo numa tempestade (30-41). Deste incidente aprendemos algumas lições preciosas referentes ao Senhor Jesus:
1)Seu exemplo de tranquilidade e paz.
2)Seu cuidado dos discípulos assustados.
3) Seu encorajamento, visando estimular a fé.
“O incidente é também uma parábola. Ainda é noite, e está tempestuoso; a Igreja e o crente ainda são afligidos pelo mar proceloso do mundo. O divino Mestre está conosco, embora, às vezes, julguemos que Ele dorme. Ele ainda transforma grandes tempestades em bonanças, e ainda repreende a nossa incredulidade”(Scroggie).
“Acordam-no, e à sua repreensão a tormenta acaba, mas porventura eles não perderam alguma coisa?”

 







MARCOS CAPÍTULO 3

Outra vez o capítulo divide-se em quatro partes, que podemos resumir em quatro palavras: milagres, escolha, blasfêmia e família.
Uma cura e muitas curas (1-12). Aprendemos: que mesmo na casa de oração pode haver alguém imprestável para qualquer serviço; que esse tal, em contato com o Salvador, pode ser habilitado; que fazer bem é lícito em qualquer ocasião; que corações endurecidos se encontram numa sinagoga; que o mal, às vezes tem de ser exposto para ser curado (5); que um espírito imundo pode saber muitas coisas.
“A necessidade humana é manifestada mais evidentemente no incidente do homem que tinha a mão mirrada. Os judeus queriam restringir, pela sua interpretação da lei do sábado, as manifestações do poder divino em prol das misérias de que o mundo estava cheio. Então a lei era para não fazer o bem? Para deixar a morte prevalecer, ou para conservar a vida? Os fariseu ficaram obstinadamente silenciosos. Então Jesus ficou indignado pela dureza dos seus corações, e invocou o poder divino para testificar contra eles. Os inimigos de Jesus ficam confundidos, mas não convencidos, e essa inimizade uniu fariseus e herodianos para o destruírem” (Grant).
A escolha dos doze (13-18). Aqui temos preciosas indicações do “preparo para o ministério”, a saber: Ouvir a chamada de Deus e obedecer  a ela; estar junto dele num lugar retirado; sentir-se  mandado por  Ele a pregar; receber do próprio Jesus todo o poder para o serviço.
“Jesus escolhe doze apóstolos, para comunhão: ‘para que estivessem com Ele’, para serviço: e os mandasse a pregar”(14). Isso é sempre a ordem divina. Nada adianta sair e pregar se não se tem estado primeiro com Deus. Primeiro solidão, depois serviço; primeiro aparelhamento, depois empreendimento; primeiro comunhão, então comissão; primeiro preparação, então pregação. Devemos tomar o tempo necessário para nos aprontar  para o trabalho; também aprender a servir junto com outros. Imaginemos os Doze em treinamento por, provavelmente, dois anos! Cristo não quer trabalhar sem nós outros: por que, então, tentar servir sem Ele?”
A blasfêmia dos fariseus (20-30). Este trecho revela várias contrariedades, começando com os próprios parentes de Jesus (21). A contradição aqui atribuída aos escribas é referida aos fariseus em Mateus e a alguns em Lucas.
A melhor explicação que temos encontrado da blasfêmia contra o Espírito Santo foi dada por G. Goodman. ‘É culpado de um pecado eterno’, é como a V.B. traduz este solene versículo 29. Que significa isto? Como muitos têm sido perturbados e mesmo alarmados seriamente por esta expressão do Senhor, pensemos a respeito: 1) Não é ela para perturbar a consciência impressionável, pois ter uma consciência sensível é estar  na condição espiritual diametralmente oposta. O blasfemo aqui referido é uma pessoa cuja consciência está cauterizada como que por um ferro em brasa. 2) Não se refere a alguém cair em tentação, a um simples pecado ou pecados; é mais uma atitude de espírito do que um ato. 3)não significa uma simples palavra irrefletida ou descuidada, embora blasfema, porque blasfêmias e pecados semelhantes podem ser perdoados (v.28). 4) Não significa meramente atribuir a obra de Cristo ao poder de Satanás, como no caso citado. Esse era um sintoma, e não o próprio crime. Foi porque os escribas fizeram isto que Cristo apontou o perigo em que estavam (v.30). O pecado eterno é a atitude de quem, propositadamente, e em desafio à luz e ao conhecimento, rejeita, e não somente rejeita mas persiste em rejeitar os esforços do Espírito Santo e a graça de Deus oferecida no Evangelho. Tal estado para quem nele permanece sem arrependimento, exclui o perdão, porque é o pecado para a morte referido em 1 João 5.16. Isto expressa o que Cristo ensinou em João 3.18. “Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más”. Pecar contra a luz é uma coisa solene e fatal; continuar nessa carreira é perecer finalmente. Em qualquer tempo que haja um desejo verdadeiro de andar direito e um anelo pela paz com Deus, há a resposta da graça. “Há perdão contigo, para que sejais temido”, porque o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado; somente não há esperança quando aquele sangue é calcado debaixo dos pés, em desrespeito ao Espírito da graça (Hb 10.29).
“Pode alguém hoje  cometer o pecado imperdoável? Isto ao menos é certo: quem pensa tê-lo cometido, certamente não o fez, porque quem o tiver feito não tem semelhante receio”(Scroggie).
Um parentesco espiritual (31-35). No versículo 32 devemos ler: “Porque a multidão estava assentada ao redor dele”(O.5).
Os irmãos e a mãe de Jesus não manifestam compreensão alguma do seu ministério, e querem chama-lo para fora. Por isso o Filho de Deus aponta um parentesco mais sublime e espiritual, com “qualquer que fizer a vontade de Deus”
“Jesus não veio para destruir as relações terrenas, mas para resguardá-las. Veio também para mostrar que as relações espirituais são soberanas. Parentesco natural é passageiro, mas parentesco  espiritual é eterno. Jesus não despreza sua mãe, mas põe em primeiro lugar o seu Pai”(Bengel).
Quando o natural e o espiritual rivalizam-se no nosso coração e na nossa vida, é fatal ceder ao natural. (Leia-se Lucas 9.59-62 e 14.26). É duro ser mal-entendido pelos parentes, mas a lealdade a Cristo pode tornar isso inevitável (Jo 7.5).











MARCOS CAPÍTULO 2


O paralítico (1-12). Depois de uma viagem de evangelização, Jesus está de volta em Cafarnaum, e “logo se ajuntaram tantos que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam”.
Notemos: que o paralítico não podia ir procurar a cura; que a bênção que recebeu foi devida ao empenho de quatro amigos; que menos um desses sabia como poderia abrir um buraco no telhado da casa; que Jesus apontava o motivo da doença, o pecado; que Ele tinha poder para perdoar; que Ele lia os corações; que o “leito” do doente era provavelmente uma espécie de esteira; que os assistentes ficaram impressionados com o milagre.
Sobre a construção das casas em Cafarnaum, e como se podia baixar um doente pelo telhado, podemos consultar “The Land and the Book”, pág. 358. A descrição é muito longa para se traduzir aqui, mas, em resumo, podemos entender o seguinte: os telhados das casas eram muito baixos: os caibros tinham uma distância de um metro de um ao outro; transversalmente aos caibros colocavam-se ramos cobertos de reboco e barro para proteger tudo do tempo. Não é difícil remover uma parte dessa coberta, mas a maior dificuldade da narrativa é pensar no incômodo que a poeira havia de causar às pessoas dentro da casa. Não precisamos supor que os quatro amigos baixassem o doente até o chão sem auxílio algum do povo lá dentro.
Várias coisas interessam-nos neste milagre de cura. Por exemplo:
1) Como Jesus tratou primeiro da origem da doença: o pecado do homem.
2) Como Ele podia e quis perdoar os pecados que causaram o mal, e em fazê-lo demonstrou ser Deus (v.7).
3) A oposição dos escribas assentados ali, e ao mesmo tempo o discernimento deles que o perdão de pecados é prerrogativa de Deus.
4) Como Jesus percebeu os pensamentos íntimos deles (8).
5) Porque era mais fácil curar que perdoar: para isso tinha que haver uma obra expiatória; para aquilo, uma manifestação do poder divino.
6) Saúde restaurada era uma prova de pecado perdoado (10).
O homem curado, “tomando logo o leito, saiu”. O dr. Scroggie pergunta a seus leitores; “Vosso leito está debaixo das costas, ou carregado no ombro?”
Levi (Mateus) é chamado (13-17). Ficamos a imaginar se Mateus seria irmão de Tiago, outro “filho de Alfeu” (3.18), e qual dos dois teria falado ao outro a respeito do Mestre.
Vemos o poder da palavra de Jesus; disse apenas “Segue-me”, e foi transformado toda uma vida. Quais palavras de Jesus que mais nos têm impressionado?
A primeira coisa que Levi quis fazer foi apresentar Jesus aos seus amigos, e lembrou-se de fazê-lo por meio de um jantar. Alguém pode fazer hoje coisa semelhante?
O jejum (18-22). Hoje, perante o mundo, jejuamos (abstendo-nos de certos gozos lícitos) porque Cristo está ausente. Reunidos com os crentes, regozijamo-nos porque Cristo está “no meio”.
Os versículos 21.22 ensinam que Cristo não propôs remendar o velho judaísmo nem pôr o “novo vinho” do Evangelho dentro dos antigos ritos e cerimônias. Ele trouxe um novo ensino, uma nova proclamação – as boas-novas de que a graça de Deus pode agora manifestar-se em bênçãos para todos que, arrependidos, creem em Cristo.
Diz o Dr. Scroggie: “A verdade é que o judaísmo e o cristianismo; a Lei e o Evangelho; o legalismo e a liberdade espiritual, são incompatíveis. O novo material do Evangelho não deve ser empregado para remendar o velho vestido da Lei; nem devemos pôr o novo vinho do cristianismo nos velhos odres do judaísmo (leia-se Gálatas 4.5 e especialmente 5.1). É de lamentar que muitos cristãos vivem na velha dispensação do tempo e das estações: “não toques, não proves, não manuseies”- confessando a Cristo, seguem a Moisés. O cristianismo nunca havia de ser um judaísmo remendado. Este fato é a condenação do ritualismo”.
Jesus, Senhor do Sábado (23-28). Cristo viu o povo muito apegado ao ritualismo, por isso ensinou que ritos, cerimônias e dias de guarda não constituem uma lei de ferro. Em seu serviço podemos trabalhar até num dia de guarda, como também atender a necessidade do nosso corpo (25).
A essência do parágrafo está no versículo 27 – O sábado era uma bênção, não uma carga; o sábado era para o homem, e não o homem para o sábado.

Conforme 1 Samuel 21, o nome do sumo sacerdote era Aquimeleque e não Abiatar (v.8). Esta diferença tem sido explicada de diversas maneiras pelos expositores. O livro de Treasury diz que Abiatar era filho de Aquimeleque e que provavelmente pai e filho levaram os dois nomes, que parece ser certo de 2 Samuel 8.17 e 1 Crônicas 18.16, onde Aquimeleque é evidentemente chamado de Abiathar, enquanto Abiathar é chamado de Aqimeleque.

MARCOS CAPÍTULO 1

João Batista (1-8). O Ministério de João Batista é referido aqui mais resumidamente do que nos outros evangelhos.
Notemos que a preparação do caminho do Senhor era espiritual e não material: Corações arrependidos, onde Cristo podia entrar com bênção. Havia muito poder espiritual com a pregação, porque sem isso ninguém confessa os seus pecados. João testificou de Jesus: Há muita pregação que não faz isso.
Há uma diferença entre o batismo de João, que era o ‘de arrependimento”, e o batismo cristão “no nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. João, não podendo apontar uma pessoa para ser o centro da congregação do povo piedoso (Gn 49.10), levantou o estandarte do arrependimento.
Batismo e tentação (9-13). A tentação é resumida em dois versículos, mas Marcos acrescenta uma circunstância: “estava com as feras”. Mateus coloca o serviço dos anjos depois da tentação.
Foi o Espírito de Deus que levou Jesus para a tentação, porque Ele havia de sair vitorioso. Jesus ensinou seus discípulos a orar, “Não nos induzas a tentação”, porque eles eram fracos e falíveis, e deviam recear toda classe de tentação.
Pregando o Reino (14-20). Neste trecho notemos o seguinte: Que a pregação de Jesus começou logo depois de João ter sido encarcerado – O trabalho não precisa parar com a falta de um obreiro; que o Evangelho anunciado era  “do reino de Deus” – o domínio divino da vida humana é a maior das bem-aventuranças; que para entrar nas bênçãos deste governo era preciso haver arrependimento e fé; que Jesus necessitava de cooperadores na grande tarefa da pregação; que os discípulos chamados deixaram as redes (o interesse material), e outros o pai (os laços de afeição natural); que para ser pescador de homens é preciso “ir após Ele”.
O trecho começa com a missão e mensagem de Jesus. Notemos as quatro partes da sua pregação: 1) O tempo cumprido (Dn 2.44; 9.25; Gl 4.4). 2) O reino está próximo. 3) Arrependimento. 4)Fé no Evangelho.
Os quatro discípulos chamados eram pescadores, ocupados, obedientes, prósperos. Deixaram redes, pais, tudo: mas ganharam muito mais homens para Cristo!
“Omite-se aqui a primeira pregação em Nazaré (Lc 4) que, sendo rejeitada, resultou em Jesus deixar essa cidade e morar em Cafarnaum, a “ aldeia da consolação”, que, por algum tempo, correspondeu ao nome” (Grant).
Três curas milagrosas (21-45). “Os milagres de cura tem três valores: comprovam a vocação divina de Jesus; revelam o coração de Deus em sua compaixão pelos homens; são parábolas no mundo físico de sua graça e poder na esfera espiritual” (Goodman).
Essas três curas, com a do paralítico do capítulo 2, ilustram quatro efeitos do pecado: permite a ação de Satanás; causa inquietação; contamina; torna a pessoa inútil para o serviço de Deus.
Notemos que havia uma oposição permanente entre Cristo e os Demônios. Ele os expelia , às vezes, sem ser rogado (25). Estes quatro milagres revelam a autoridade (27), simpatia (31), compaixão (41), e poder (2.10) de Cristo.
Os dois capítulos descrevem uma viagem circular, saindo de Cafarnaum, pregando por toda Galiléia (39), e voltando a Cafarnaum.
“A prova da realidade de um homem e a revelação de seu caráter vêem-se  no que ele faz quando é popular (33), como reage às aclamações da multidão. Que fez Jesus? (35) A única coisa segura a fazer é retirar-se da turba ao trono, da pregação à oração. Ninguém que não passa muito tempo com Deus poderá prevalecer muito tempo com os homens. Entre os versículos 39 e 40 vem o Sermão da Montanha (Mt 5 a 7), uma amostra da pregação referida em 38 e 39” (Scroggie).

O leproso (41-45). O leitor deve notar quanto o leproso fez e disse e tudo que Jesus fez e disse.

MARCOS APRESENTAÇÃO


Marcos, também chamado João, era filho de uma das Marias do N.T e sobrinho de Barnabé. Era associado com os apóstolos e é mencionado nos escritos de Paulo e de Lucas (At 12.12,25; 13.13; 15.37,39; Cl 4.10; 2 Tm 4.11; Fm 24).
A data de Marcos tem sido calculada entre 57 a 63 d.C
Tema. O escopo e propósito do livro são evidentes pelo seu conteúdo. Nele Jesus é visto como o poderoso obreiro, mais do que como ensinador. É o evangelho do servo de Jeová, o “Renovo” (Zc 3.8); como Mateus, é o Evangelho do “Renovo... de Davi” (Jr 33.15).
A qualidade de servo de Deus no Filho manifesto em carne é sempre evidente. O versículo chave é 10.45. A palavra característica é “imediatamente”, a expressão adequada para um servo. Não há genealogia, pois quem cuidaria de apresentar a genealogia de um servo? O caráter distintivo do Cristo em Marcos é aquele que Paulo apresenta em Filipenses 2.5-8.
Mas este humilde Servo, que abandonou a forma de Deus (Fp 2.6) e foi achado na forma de homem, era, contudo, “o Deus poderoso” (Is 9.6), como o próprio Marcos declara (1.1), e por esta razão obras poderosas acompanharam seu ministério, comprovando-o. Como convém a um evangelho de serviço, Marcos destaca mais as ações do que as palavras.
O melhor preparo do coração para o estudo de Marcos é a leitura (Com oração) de Isaías 42.1-21; 50.4-11; 52.13 a 53.12; Zacarias 3.8; Filipenses 2.5-8.
Marcos tem cinco divisões principais: 1) A manifestação do Filho-Servo (1.1-12). 2) O Filho-Servo provado (1.12,13). 3) O Filho-Servo agindo (1.14 a 13.37). 4) O Filho- Servo obediente até a morte (14.1 a 15.47). 5)O ministério do Filho-Servo em ressureição, exaltado e com toda a autoridade (16.1-20) (Scofield).
INTRODUÇÃO (1.1-13).
a) A proclamação (1-8)
b) A preparação de Jesus (9-13).
1. O servo divino da Galiléia (1.14 a 9.50).
1.1 Jesus luta com os agentes e as atividades do mal (1.14 a 3.6).
1.2 Jesus separa os crentes dos descrentes (3.7 a 6.6).
1.3 Jesus opera milagres entre o povo (6.7 a 8.26).
1.4. Jesus instrui seus discípulos em vista da Cruz (8.27 a 9.50)
2. O Servo divino, da Galiléia a Jerusalém (cap. 10.1-52).
2.1 O ministério na Peréia (1-31).
2.2 Última viagem a Jerusalém (11.1 a 15.47).
3. O servo divino em Jerusalém (11.1 a 15.47).
3.1 Domingo (11.1-11). A entrada triunfal na cidade
3.2 Segunda-feira (11.12-19). A figueira amaldiçoada e o templo amaldiçoado.
3.3 Terça-feira (11.20 a 13.37). A final controvérsia e a grande predição.
3.4 Quarta-feira (14.1-11). A conspiração e pacto para prender Jesus.
3.5 Quinta-feira (14.12-52). A páscoa, o Getsêmane e a traição.
3.6 Sexta-feira (14-53 a 15.47). A condenação e a crucificação.
CONCLUSÃO (16.1-20)
a) A ressureição de Jesus (1.9).
b) A manifestação de Jesus (9-20)- (Scroggie).
A MENSAGEM DE MARCOS
Jesus Cristo se nos apresenta no Evangelho de Marcos como Servo humilde, fazendo a vontade do Pai. As primeiras palavras ensinam-nos que as qualidades de servo e filho são inseparáveis. Não é mediante o serviço que nos tornamos filhos, mas pela adoção de filhos que chegamos a ser servos (Ml 3.17; Mt 21,28; Mc 1,1).
Uma revista do conteúdo deste Evangelho mostra que todo o seu pensamento difere do de Mateus. Ali se estabeleceu o trono; e o Rei, sentado sobre ele, pronunciou os seus decretos e dominou seus súditos; aqui se vê o servo ungido andando entre os homens, passando de um lugar a outro, descansando mas incansável, cumprindo seu ministério. A narrativa de Marcos é rápida, enérgica, realista, pitoresca, dramática e caracterizada por transições repentinas.
As omissões são muitas e significativas, visando salientar Jesus como o Servo.
Por exemplo, em Marcos o título “Senhor” nunca é empregado pelos discípulos, e ocorre apenas 17 vezes neste Evangelho, comparado com 72 vezes em Mateus, 101 em Lucas e 108 em João. (Compare –se Mateus 8.2 com Marcos 1.40; Mateus 26.22 com Marcos 14.19; Mateus 8.25 com Marcos 4.38.)
Ainda mais, notamos que aqui não há nenhuma referência à preexistência de Cristo, como em João; nenhuma genealogia, nem nascimento milagroso; nenhuma adoração dos magos; nenhum sermão da montanha; nenhuma denúncia da nação ou juízo das nações; nenhuma sentença contra Jerusalém. Estes e outros pontos semelhantes não teriam cabimento na descrição do Servo humilde, e por isso omitem-se. Mas o aspecto refletido aqui não é somente negativo, é positivo também. Assim a atenção é chamada para as ações, as palavras para o aspecto de Cristo, como convém ao perfeito Servo.
Em Marcos chama-se especial atenção aos retiros de Jesus. Ele retirou-se a um lugar solitário, depois das primeiras curas (1.35); a lugares desertos depois da purificação do leproso (1.45); ao lago, depois de ter curado o homem que tinha a mão ressicada (3.7); às aldeias, depois da sua rejeição em Nazaré (6.6); a um lugar deserto, depois do assassínio de João Batista (6. 30-32); aos arredores de Tiro e Sidom, depois da oposição dos fariseus (7.24); à vizinhança de Cesaréia de Filipos, depois da cura de um cego (8.27); ao monte Hermon, após a primeira declaração aberta de sua paixão (9.2); a Betânia, depois da entrada triunfal (11.19), e ainda mais uma vez após o discurso sobre as coisas do fim (14.3). O parágrafo adicional sobre a ascensão é como que a história da sua última retirada (16.19).
É evidente o sentido disto. Quem muito serve, precisa estar muito com Deus, e os períodos de retiro e descanso espiritual serão mais frequentes e mais necessários à medida que o nosso serviço se torne mais verdadeiramente sacrificial: Somente à medida que permanecermos no esconderijo do Altíssimo poderemos ter um coração tranquilo, preparado para o serviço.
Mas junto a esta lição aprendemos outra, talvez mais difícil de entender, a saber, que devemos estar à disposição dos outros, e que nossos próprios retiros precisam ficar sujeitos às necessidades dos homens. Na vida do verdadeiro Servo isso é muito evidente (Scroggie).

‘Não sabemos se Marcos viu ou ouviu, pessoalmente, alguma vez o Senhor, embora alguns têm pensado que ele descreve a si mesmo no capítulo 14.51,52. Ele parece ter relatado principalmente o que ouviu Pedro. Justiniano Mártir (100- 165 d.C.) cita o seu evangelho sob o título ‘Recordações de Pedro’, e Irineu (130-202 d.C.) diz que ele era discípulo e intérprete de Pedro, e escreveu o que este pregara “(Goodman)”.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

MATEUS CAPÍTULO 28

A ressureição (1-10). No versículo 1 devemos ler “e depois do sábado, antes da alva do primeiro dia da semana” (O. 21).
A narrativa de Mateus é a única que diz que o anjo do Senhor tirou a pedra do sepulcro e sentou-se sobre ela. O “evangelho do Rei” recorda este humilde serviço de um dos mensageiros celestiais.
Notemos as palavras “Vinde”; “Vede”; “Ide”; “Dizei”. As palavras do anjo inspiram alegria, mas as de Jesus, adoração (9). E depois: “Não temais; ide anunciar”.
Este trecho nos revela com respeito aos anjos. Eles têm corpo mas passam livremente entre o Céu e a Terra (2). Este anjo trajava roupas; era resplandecente, e despertou temor nos que o viram (3,4). Falou, presumivelmente, em aramaico, pois foi entendido. O que os guardas fizeram, ele ordenou às mulheres que não fizessem (4,5). Conhecia a Jesus e sabia por que as mulheres tinham vindo (5). Sabia que Jesus predisse a sua ressureição; sabia que Ele ressurgiria; disse isso às mulheres e mandou que examinassem o lugar (6). Chama Jesus de “o Senhor”.
“Maria Madalena já tinha corrido para dar as boas notícias aos discípulos antes que Jesus se encontrasse com as outras mulheres, por isso ela não estava com elas. Tiveram o ensejo de abraçar-lhes os pés (v.9), enquanto Maria Madalena, querendo fazer isto, fora proibida (Jo 20.17). O motivo disto tem sido muito discutido. A seguinte explicação parece razoável: a intenção de Maria era segurá-lo para que não se retirasse mais, como Jacó quis segurar o Anjo (Gn 32,26); como a mulher samaritana recusou a deixar Eliseu, abraçando-lhe os pés (2 Rs 4.27). Veja-se também cantares 3.4. A resposta do Senhor significava então: “Não me detenhas com demonstrações de afeição. Ainda não ascendi”.
Jesus aparece aos discípulos na Galiléia (11.20).
“Parece ter havido dez manifestações antes da ascensão do Filho de Deus, sendo cinco no dia da ressureição e cinco depois. A dos versículos 8-10 era a segunda no dia da ressureição, sendo a primeira a Maria Madalena (Jo 20.14-18)” (Scroggie).
No versículo 17 devemos ler “E quando o viram adoraram-no, embora duvidosos dos seus sentidos” (O. 26).
A grande comissão de evangelizar o mundo (16-10). Todo o poder; todas as nações; todas as coisas; todos os tempos. Notemos:
1) Sua autoridade: total, universal, única, suficiente.
2) Seu mandato; positivo, explícito, urgente, inclusivo.
3) Seu batismo, matriculando discípulos de todas as nações. A palavra “ensinai” (v.19, Alm.) é “matheusate” (discipular ou matricular) e no versículo 20 é “didascontes” (instruir). Depois de ser matriculado pelo batismo.
4) Seu ensino dos discípulos arrolados – todas as coisas que vos tenho mandado.
5) Sua presença, em todos os lugares e em todos os tempos. Notemos que a frase “sunteleias tou aionos”, traduzida na V.B. “fim do mundo” significa, ao pé da letra, “fim de época”. Em nenhuma parte da Bíblia fala-se do “fim do mundo”. [Assim entende o autor].

Aprendemos deste trecho: Que a chamada ao serviço vem a quem está no caminho da obediência (16) que a visão do Cristo ressurreto leva à adoração (17); que nossa confiança para o serviço deve estar no poder de Cristo e não em Nós, que o alvo do Evangelho é todo o mundo (19); que devemos ensinar toda a verdade de Deus; que o crente pode contar com a contínua presença do seu Salvador.

MATEUS CAPÍTULO 27


Ainda outra explicação  devemos ao Dr. Bullinger: “A profecia foi primeira falada por Jeremias e depois escrita por Zacarias”.


O suicídio de Judas (1-10) “Comparando Mateus com Atos 1.16-19, parece que depois de judas se enforcar, seu corpo caiu. A citação atribuída a Jeremias é bem parecida com Zacarias 11.12,13. Isto tem sido explicado pelo fato de que o volume dos livros proféticos era geralmente conhecido pelo nome do primeiro, e no cânon judaico o primeiro era Jeremias. Outra explicação é que o nome do profeta foi acrescentado (erradamente) por alguns copistas do manuscrito original, pois vários manuscritos omitem ‘Jeremias’ depois da palavra profeta” (Treasury).
O que vemos em Judas é antes remorso do que um verdadeiro arrependimento. Um homem totalmente endurecido nem remorso teria sentido. Ofender um seu  semelhante menos santo e menos amável, não teria ocasionado comoção tão profunda.
No caso de Judas vemos o perigo de uma familiaridade com o que é espiritual e divino, sem haver constante exercício espiritual. Acontece o mesmo hoje. Facilmente se costuma cantar hinos sublimes sem prestar atenção ao seu sentido. O pregador repete tantas vezes o Evangelho que não se sente mais comovido por ele. O crente afirma que “tem a vida eterna” sem sentir o verdadeiro significado de expressão tão sublime.
“Claramente é a agonia do remorso que vemos em Judas, e não o arrependimento verdadeiro. Ele não pôde ficar com o dinheiro que ganhara, o qual, mesmo no parecer dos sacerdotes, estava manchado de sangue.”
Até mesmo aos ouvidos deles Judas grita a confissão do seu pecado em ter traído sangue inocente: não grita sangue santo ou justo, e ainda menos o Santo e o Justo.  A glória do Filho de Deus não o preocupa. Nada de chegar-se àquele em cuja companhia por tanto tempo tinha andado – não havia nenhum reconhecimento de qualquer recurso a que pudesse recorrer. Enfim, não há nada de fé, e por isso nada de arrependimento. Ele atira as moedas no santuário – a parte do templo reservada aos sacerdotes – ‘e foi se enforcar’. Em tudo isso vemos o contrário da fé. Quantas vezes ele teria visto as obras maravilhosas que testificaram que ‘o Filho do homem tem poder sobre a terra para perdoar os pecados’, mas parece não se lembrar de nada disso, ou não pode acreditar na divina misericórdia  para consigo, e por isso se atira na ruína irrevogável” (Grant).
“Que carreira e que fim! Alguns maus homens tornam-se bons, e alguns bons tornam-se maus, mas aqui um homem mau permanece mau até o fim. A sua confissão e remorso  não importam em arrependimento no sentido evangélico. O arrependimento de Pedro resultou em Santificação; o remorso de Judas em suicídio. Judas não somente vendeu o Mestre, mas a si mesmo. Que preço tem a sua alma, leitor? Alguns vendem a alma por dinheiro facilmente adquirido, outros pelos prazeres do mundo, mas Judas nada lucrou” (Scroggie).
Jesus perante Pilatos (11-31). Cristo é a grande “pedra de toque” do universo. Em contato com Ele todos se revelam. Os chefes religiosos do judaísmo descobriram o seu ódio pelo Sumo Bem; Pilatos descobriu sua fraqueza e indecisão, a sua incapacidade de exercer a justiça; o povo revela a sua preferência por um malfeitor; a esposa de Pilatos revela uma justa apreciação da inocência de Jesus; os soldados revelam seu indiferentismo e crueldade. E nós, que mostramos? Admiração? Gratidão? Obediência?
Lucas 23.2 ensina-nos as três acusações dos judeus contra Jesus perante Pilatos: 1) pervertendo a nossa nação; 2) proibindo dar tributo a César; 3) dizendo ser Rei.
“Aqui relatam-se a quarta e a sexta fase do processo de Jesus; seu primeiro e segundo comparecimento perante Pilatos. Entre os versículos 14 e 15 vem a quinta fase, o comparecimento perante Herodes (Lc 23.8-18). No Relatório do primeiro comparecimento perante Pilatos (11-14) a coisa mais notável é o seu silêncio. Ele respondeu ao governador que agia judicialmente, mas não aos sumos sacerdotes e anciãos cujo procedimento todo era ilegal. Há ocasiões quando a única resposta consoante com a dignidade e honra é o silêncio. Falar com certa gente é rebaixar-se (Scroggie).
Barrabás ou Cristo?(20-26). Barrabás tem o sentido ‘filho do pai’ (Jo 8.44), assassino desde o princípio; e o outro, ‘Filho de Deus’. Que contraste entre esse notável preso chamado Barrabás, que tinha feito insurreição e cometido homicídio (Mc 15.7), e o Santo de Deus – esse homem justo – com quem a mulher de Pilatos sonhara (v.19)! O povo teve de escolher entre os dois, um para ser solto e outro para ser morto. A mesma escolha é nossa hoje!
A crucificação (32-56). Notemos a extrema barbaridade desses tempos em que a crucificação era um suplício frequente, especialmente com castigo de escravos. “Os cidadãos romanos eram isentos desta pena, em virtude de leis especiais”(Davis).
O incidente de Simão, o cirineu (ou “lavrador”, O.129) é relatado por três dos evangelistas, mas omitido por João.
“A cruz de Cristo é o ponto central de toda a história: o universo gira em torno dessa cruz. Esta tragédia é o maior dos trunfos; esse fracasso, o maior dos sucessos. Das trevas vem vindo eterna luz; Jesus foi desamparado para que fôssemos amparados; Ele foi ferido para que fôssemos sarados. Se Ele se tivesse salvado, não teria podido salvar-nos. Se Ele tivesse fugido da cruz, nós pra lá teríamos de ir. Se Ele não tivesse morrido na cruz, Barrabás teria morrido nela” (Scroggie).
É preciso notar que o título na cruz (37) escrito em três línguas diferentes (e mais completamente em uma do que nas outras) contém a acusação de ter desafiado a autoridade romana.
Jesus nunca falou em ser desamparado pelo Pai, mas sendo “feito pecado” por nós, sentiu-se abandonado por Deus (46).
E quem dirá o agrado que, como Pai, achou Em Ti, Teu Deus, quando Ele a Ti desamparou?
O véu rasgado logo após a consumação da obra expiatória, não era obra humana, pois os homens o teriam rasgado de baixo para cima; nem foi propriamente para nós podermos entrar, mas sim para Deus poder sair em bênção para a humanidade (v.51).
O estranho incidente nos versículos 52,53 relatado somente por Mateus. Diz o dr. Goodman: “Este acontecimento deu-se depois da ressureição, mas é ligado com a morte do Senhor, sendo a lição, evidentemente, que somente na base do sangue derramado podem os santos saírem do sepulcro”.
Não podemos afirmar que o capitão romano e os soldados foram convertidos nesse momento tremendo, mas foram convidados (como o carcereiro de Filipe antes de ser crente) e, espantados, disseram que Jesus era “Filho de Deus”(v.54).
E as mulheres, de longe, presenciavam tudo! (vv.55,56).

A sepultura de Jesus (57-66) também correspondia com a voz profética (Is 53.9, V.B.). Vemos amor e ódio em atividades com respeito ao corpo de Jesus. Devemos notar que a guarda foi posta pelos chefes religiosos e não por Pilatos.

MATEUS CAPÍTULO 26


 Conspirando (1-5). “Esta é a quarta vez que Jesus prediz a sua morte. Chega a marcar o dia, que foi justamente o contrário do plano dos inimigos: Não durante a festa”.
“Durante o seu ministério, Jesus referiu-se 25 vezes à sua morte” (Scroggie).
O jantar em Betânia (6-13). Aqui devemos ler, provavelmente, “Simão, negociante de louças”, e não “o leproso” (O. 93).
Esta ocasião, tão tocante e íntima, patenteou o amor dos seus amigos ao mesmo tempo em que o ódio dos adversários chegava ao seu auge.
João ensina-nos que a mulher era Maria, a irmã de Lázaro, e nos deixa imaginar que Simão era o pai dela, talvez um dos que Cristo curara (Gray).
O que se gasta com Jesus não é “desperdício”. Aprendemos de João que foi Judas quem falou em desperdício.
Jesus atribuiu a Maria mais inteligência do que aos outros referente à morte. Ela não foi ao sepulcro para embalsamar um corpo incorruptível, mas prestou o seu serviço antecipadamente.
“Aqui está uma profecia que tem sido cumprida tão literalmente que ninguém o pode negar (v.13). E hoje, na China, na Índia, na África, na América, fala-se deste incidente constantemente. Nossa familiaridade com o fato tende a diminuir a nossa admiração. Deveras havia um profeta ali! Por que havia de ser divulgado em toda parte o que a mulher fizera? Porque o Senhor aprecia mais do que tudo a dedicação dos nossos corações à sua pessoa?”
“Este trecho apresenta contrastes notáveis. Uma mulher, um homem; um amigo, um inimigo; dando alguma coisa, recebendo alguma coisa; devoção, engano; sacrifício, egoísmo; um vaso de unguento, trinta moedas; abençoado, amaldiçoado” (Scroggie).
O preço da traição (14-16). “Devemos ler: ‘ajustaram com ele trinta moedas’ (R.149). Judas é bem diferente da mulher que quis gastar com Jesus. Ele quis e obteve as 30 moedas de prata, e tornou-se o primeiro entre dezenas de milhares que tem abandonado a Cristo por amor de lucro material”(Goodman).
A última páscoa transformada em a Santa Ceia (17-30). “Jesus tomou os elementos da páscoa e deu-lhes uma nova significação. A páscoa tinha servido seu propósito, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava ia ser morto no dia seguinte. Por isso foi instituído uma nova festa, apresentando a verdade fundamental do cristianismo, como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo” (Weston).
O que preocupava o pensamento de Jesus era a traição. A pergunta de cada um, ‘‘porventura sou eu, Senhor?”é melhor do que suspeitar do próximo”.
Entende-se que entre a festa pascoal (20-25) e a ceia do Senhor (26-30), Judas tinha saído (JO 13.30).
“O hino que cantaram eram os salmos 115 a 118” (Scroggie).
Entre os versículos 20 a 21 leia-se João 13. 1-20; e depois do versículo 25 leia-se João 14.1 a 17.26.
Em Lucas e 1 Coríntios, e não nos dois primeiros evangelhos, é que o caráter memorial da Ceia é afirmado, e isto é de importância decisiva para a sua interpretação. “Fazei isto”, diz o Senhor, em memória de mim” (Lc 22.19). Aqui se afirma o propósito preciso do pão e do cálice.
“Ora, lembrança é daquilo ou de quem não está presente. Ainda mais, é de alguma coisa passada. O comentário do apóstolo é tão claro quanto possível: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor , até  que venha” (1Co 11.26). Claramente a morte do Senhor não é uma coisa presente, mas passada. “A morte não terá mais domínio sobre Ele”. É um Senhor morto que recordamos, mas um Senhor vivo que adoramos” (Grant).
Vemos Pedro (como alguns de nós) entusiasmado, confiado em si, não compreendendo a própria fraqueza. Ele está tão confiado que até contradiz o próprio Mestre!
Notemos em Pedro: dedicação ao seu Mestre; ignorância de grandeza da provação que chegava; confiança na própria coragem; uma atitude de superioridade sobre os outros.
Jesus em Getsêmane (36-46). “Não devemos supor que o cálice aqui seja o mero receio da dor física ou da morte... O cálice devia ser o ato de Ele fazer a sua alma uma oferta pelo pecado (IS 53.10), incluindo o desampara de Deus (Sl 22.1); o valor da sua petição é que testemunha a necessidade da expiação pelo pecado”(Gray).
Vemos que, nesse momento de suprema provação, o que mais importava a Jesus era a vontade de Deus. É assim conosco?
Entre três orações, Jesus voltou duas vezes aos discípulos. Ele sentia o valor e a necessidade da simpatia humana. A primeira vez, ele acordou a Pedro e falou com ele, talvez lembrando a Pedro que ele necessitava de reforço espiritual que vem do “velar com Jesus”. A segunda vez parece que não acordou nenhum deles. A terceira vez achou-os meio acordados, e disse que podiam dormir (se podemos aceitar a tradução “Dormi agora” e não a emenda “Dormes agora?”); era tarde para velarem.
“Como é profundo o mistério das duas vontades de Jesus: a humana e a divina! Aqui a sua vontade humana é submissa ao Pai (v.39). Ele recuaria da cruz, mas aceitou-a. O que tinha soberana e eterna importância para Jesus era a vontade de Deus” (Scroggie).
Jesus é preso (47-56). Confrontando as diferentes narrativas da traição de Judas e a prisão de Jesus, notamos que só em Mateus Jesus chama Judas de “amigo”. Somente João diz que foi Pedro que feriu com a espada, e dá o nome do servo: Malco. Somente Lucas (o médico) recorda que Jesus sarou a ferida. Somente João tem a pergunta “Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?”.
A palavra que Jesus emprega (hetairos), traduzida “amigo” (v.30), não é a mesma de João (15-14) (filos), mas significa companheiro, colega, e nunca contém a ideia de amizade (veja-se 11.16; 20.13; 22.12) (Scroggie).
A perversidade de Judas, depois de desfrutar por três anos a intimidade com Jesus, revela a profundeza que a natureza humana pode rebaixar-se!
Jesus foi provado de toda maneira: A contradição dos pecadores, a fraqueza dos discípulos, e a malignidade de Satanás, mas conservou sereno e confiado seu espírito.
Doze legiões (v.53). “Uma legião de soldados nos tempos de Jesus, era composta de 6200 soldados de infantaria e 300 de cavalaria. Doze legiões, portanto, seriam 78000 homens” (Treasury).
Jesus perante os juízes religiosos (57-68). ”Houve seis fases do processo de Jesus, sendo três eclesiásticas e três civis: 1) Perante Anás (Jo 18.12-24). 2) Perante Caifás (57-68). 3) Perante o Sinédrio (27.1,2). 4) Perante Herodes (Lc 23.8-11). 6) Perante Pilatos outra vez (27.15-26)” (Scroggie). Este trecho em Mateus refere-se à segunda fase.
Devemos notar que as testemunhas falsas citaram erradamente as palavras de Jesus (versículo 61 comparado com João 2.19). Ao citar a Escritura devemos ter o cuidado de não mudar nem uma palavra.
Notemos que Jesus não se defendeu, mas quando era preciso testemunhar a verdade, falou (v.64).
Jesus afirmou quatro verdades: 1) Que era o Cristo. 2) Que era o Filho de Deus. 3) Que havia de sentar-se à direita da majestade divina. 4) Que viria “sobre as nuvens do céu” (v.64).

Pedro nega a Jesus (69-75). O Senhor lhe tinha dito: “Quando te converteres, conforta teus irmãos” (Lc 22.32). Ele era já regenerado, mas a referida conversão aconteceu no Pentecoste, sete semanas mais tarde. Não há maior necessidade hoje do que esta: que todos os crentes sejam realmente convertidos: voltados a encarar sempre seu Salvador. O versículo 70 deve ser “Não conheço este de quem falais” (O. 20).

MATEUS CAPÍTULO 25


A parábola das dez virgens (1-13). O sermão profético é interrompido por parábolas desde 24.32 até 25,31, e as destes capítulos ensinam outra vez a necessidade de vigilância (1-13) e fidelidade (14,30).
As virgens representam cristãos professos, dos quais cinco são renascidos. Devemos notar os pontos de semelhança que havia antes do grito da meia-noite e os pontos de diferença depois desse brado.
O nosso estudo desta parábola podemos considerar:
1) O propósito das virgens que foi o de se encontrar com o esposo – sem dúvida um bom propósito. Quais são os propósitos que mais preocupam o pensamento humano? Alguns aspiram a, mais cedo ou mais tarde encontrarem-se com Cristo.
2) A prudência das virgens. Notemos que havia aparente semelhança exterior entre elas, mas fundamental diferença íntima. Cinco prudentes; cinco loucas.
3) O preparo das virgens para se encontrarem com o esposo era, então, azeite nas lâmpadas: Talvez uma figura do Espírito Santo. Qual é o preparo de que nós necessitamos?
4) A paciência das virgens. Houve uma demora inesperada, como também parece acontecer com a segunda vinda de Cristo; e essa demora serviu para revelar a prudência das virgens. O decorrer dos anos descobre, em nós, o que?
5) O prêmio das virgens prudentes foi o de entrarem no gozo do noivo. Há galardão para o crente em Cristo, pois gozará futuramente a companhia do seu Senhor.
6) O prejuízo das virgens loucas foi a perda de toda essa alegria. O remorso por bênção perdidas pode bem ser um dos principais castigos do impenitente.
7) A lição da parábola é: “Vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora”. Efeitos desta vigilância: a) guarda-nos de demasiada preocupação com interesses atuais; b) preserva do desânimo que poderia resultar das provações do momento; c) inspira-nos com grande esperança para o porvir; d)preocupa-nos com o Cristo, não como sofredor, mas como Rei vindouro.
A parábola dos talentos (14-30) ensina-nos a aproveitar bem o tempo até a vinda de Cristo. O verdadeiro Crente não pode ser um servo mau ou negligente.
O talento era o dinheiro da antiguidade que, segundo o dicionário de Davis, valia 29,374,50 dólares, sendo de ouro, ou, de prata, valendo este 1950,00 ( em 1942).
Em figura, os talentos representam as oportunidades da vida. Nós podemos ter pouco dinheiro com que servir nosso Senhor, mas temos força, tempo, oportunidades, etc.
“Esta parábola dos talentos deve ser comparada e contrastada com a das minas em Lucas 19”. Ambas falam da ida, da ausência, da volta, e em ambas a ênfase é sobre o que se faz durante a ausência.
“A cada um destes servos é dado segundo a sua capacidade (14,15); os servos são então contrastados (16-18); depois vem a volta, a prestação de contas, o prêmio dos diligentes, e reprovação do indolente (19-30)” (Scroggie).
“Não é a quantia que nos é dada que determina a recompensa, mas a fidelidade no seu emprego. O servo que recebera cinco talentos ganhou outros cinco, mas o que recebera dois também dobrou o capital recebido, e merece a mesma aprovação; e havia de ser uma satisfação para o senhor achar um dos seus pronto a servir tanto na condição humilde como na condição mais elevada” (Grant).
O fim do sermão. O juízo das nações vivas (31-46). Não se deve confundir este juízo com o dos mortos em Apocalipse 20.11-15.
A ocasião do juízo é a vinda gloriosa de Cristo com seus anjos. Segunda fase da segunda vinda, logo antes de ser estabelecido o Milênio.
O lugar: provavelmente, a Palestina.
Os julgados: as nações vivas.
O assunto do juízo é a maneira pela qual as nações têm tratado os “irmãos de Cristo”.
O resultado é separação, galardão ou condenação.
O versículo 40 merece a nossa detida consideração, e deve influir em todo o nosso serviço.
O versículo 45 mostra que há castigos por pecado de omissão.
O expositor prudente evitará aplicar o ensino deste juízo a outras pessoas ou outros pecados não referidos no trecho.
“O Filho do homem vem na sua glória, e todos os santos anjos com Ele, e senta-se no trono da sua Glória (v.31). Todas as nações estão reunidas perante Ele. As palavras são “panta ta ethne”, que muitas vezes são traduzidas num sentido geral e não com referência às nações individualmente (Gl 3.8; 2 Tm 4.17). Por isso não convém insistir que temos aqui o julgamento de nações e não de indivíduos. Talvez seja mais prudente tomar a parábola como ensinado o princípio geral em que o julgamento se baseará, para que assim os nossos corações sejam exercitados por ela. Nem devemos insistir demasiadamente sobre as palavras ‘estes meus irmãos” aplicando-as exclusivamente aos judeus. “As palavras de 10.40-42 permitem-nos dar à expressão uma aplicação mais extensiva” (Goodman).
Este trecho não contém qualquer alusão aos crentes no Evangelho da graça de Deus. As nações aqui são julgadas não por sua fé ou descrença numa obra redentora, mas segundo as suas próprias obras. Por isso o trecho pouco serve ao evangelista na sua apresentação do Evangelho da graça de Deus.

Nota: As anotações entre colchetes([]) no comentário  aos capítulos 24 e 25 permitiu-se ao editor inseri-las.

MATEUS CAPÍTULO 24


Destruição do templo (1-3). Seu cumprimento foi às mãos do imperador Tito, no ano 70 d.C.
A tríplice pergunta:
1) Quando serão estas coisas (a destruição do templo, etc.)?
2)Que sinal haverá da tua vinda (parousia: presença)?
3) Que sinal haverá do fim da época?
Nota: A expressão grega “sunteleias tou aionos”, traduzida por Almeida e V.B. “fim do mundo”, significa cumprimento do período, ou época, ou tempo, como em Figueiredo. Importa uma consumação final. (15-28) e prediz o destino de Israel. As guerras e distúrbios que haviam de seguir imediatamente não eram o fim (6). Poucos anos depois, em 70 d.C. estas guerras começaram, e terminaram com a destruição do templo e da cidade, e a dispersão dos judeus. As palavras do versículo 2 foram cumpridas literalmente, pois i imperador Tito mandou escavar os alicerces da cidade toda, como também do templo, e mais tarde Terêncio Rufo lavrou o lugar. Assim cumpriu-se literalmente Miquéias 3.12” (Goodman).
A grande tribulação (15-26). Este trecho é geralmente reconhecido como se referindo ao período final, que, segundo o parecer de muitos expositores de confiança, seguirá a vinda de Cristo para arrebatar a sua Igreja. Primeira fase da segunda vinda.
“A abominação da desolação (v.15) é mencionada quatro vezes em Daniel: em 8.13 como a transgressão assoladora; em 9.27 como asa das abominações; em 11.31 como abominação desoladora; e em 12.11 como abominação desoladora. Estudando estas quatro passagens, vemos que se referem a profanação do santuário (o Templo), à cessação dos sacrifícios, e ao estabelecimento de uma abominação (um ídolo?) no lugar de sacrifício” (Goodman).
Dez anos após a morte de Cristo, o imperador romano Calígula decretou que a sua estátua fosse colocada no Templo em Jerusalém para ser reverenciada. Profecia de dupla realização: ocorreu antes da destruição de Jerusalém 70 d.C. e ocorrerá no segundo período da grande tribulação.
A volta do Rei em glória (27-31). Segunda fase da segunda vinda, julgamento das nações. Notemos as seguintes circunstâncias. A volta será:
a) evidente como um relâmpago (v.27).
b)acompanhada de juízos (v.30).
c) com um sinal no céu (v.30).
d) lamentável com os descrentes (v.30).
e) junto com os anjos (v.31).
f)uma ocasião do ajuntamento dos escolhidos (v.31).
O cadáver e as águias (v.28). É difícil ser positivo sobre a interpretação das palavras aqui e em Lucas 17.37. Uma explicação é que significam a destruição – repentina, útil e necessária- dos inimigos do reino. Da mesma maneira que os urubus descem dos céus para imediatamente removerem tudo que é morto e corrupto, assim também os anjos de Deus na segunda vinda separarão os maus e corruptos – os espiritualmente mortos- dos “escolhidos”(21) que têm vida em Cristo (Mt 13.40-50). Contudo, não deixa de ser um dos versículos mais problemáticos do N.T.
Diz F.W. Grant “Onde estivesse o cadáver (a corrupção), as águias haviam de descobri-lo: o juízo seria completo na sua obra. Não haveria mais esperança de longanimidade. O juízo era agora o único remédio. A vara do pastor havia de ferir e destruir os destruidores do rebanho e da terra”.
“Aprendemos no versículo 29 que os versículos 15-29 relatam aquele período conhecido como a Grande Tribulação, à qual há frequente alusão nos escritos do V.T., nos Salmos e no Apocalipse. Os estudantes da profecia conhecem-no como a segunda metade da septuagésima semana de Daniel. Devemos distinguir entre a Grande Tribulação e a destruição de Jerusalém em 70 d.C. A referência a esta última não está em Mateus, mas em Lucas 21.12-24. O período da Tribulação é relacionado imediatamente com o povo judaico, a Palestina, e o aparecimento do Anticristo, mas todo o mundo é afetado. Devemos ligar o versículo com Daniel 12.11” (Scroggie).
A volta do Senhor (32-51). O assunto de 24.23 a 25.46 é a segunda vinda de Cristo, e chama-se atenção para a maneira (23-28), a ocasião (29-51) e o efeito da sua vinda (cap.25). Trata-se da segunda fase da vinda de Cristo, no fim do segundo período da grande tribulação, mas algumas dessas profecias e períodos se referem também à primeira fase da segunda vinda- o arrebatamento da igreja.
“Aqui estudamos a ocasião. Será no fim da Grande Tribulação, e, efetivamente, terminará esse período de aflição. O aparecimento do Reis será acompanhado por certos sinais que não deixarão ninguém em dúvida sobre o que vai acontecer (29). A volta do Senhor (segunda fase) terá efeitos opostos sobre os inimigos (30) e amigos (31); tristeza e alegria, gemidos e adorações, medos e delícias. Ele não virá afinal como veio da primeira vez, em fraqueza e humildade, mas com poder e glória.
“Primeiro ilustra a certeza da vinda (32-35). Tão certamente como as árvores brotando anunciam a vinda da primavera, assim estes sinais (29) anunciarão a vinda do Rei. Jesus diz que somente o Pai sabe a hora deste grande acontecimento (36), mas quando vier, o mundo será tomado de surpresa (37-39) como nos dias do Dilúvio. Esse dia será um dia de separação (40,41). Palavras solenes: ‘levado ou deixado’” (Scroggie). [Esta profecia também se aplica à primeira fase da segunda vinda, o arrebatamento].
“Não passará esta geração (v.34). Apalavra grega ‘genea’ significa raça, espécie, família, etc. É certo que a palavra se emprega neste sentido aqui, porque nenhuma ‘destas coisas’, a saber, a pregação do Evangelho do reino em todo o mundo, a volta de Cristo em visível glória, o ajuntamento dos escolhidos, aconteceu na destruição de Jerusalém por Tito em 70 d.C. A promessa é, portanto, que a geração – a nação ou família de Israel- será conservada até o fim” (Scofield).
Um escritor oferece a seguinte paráfrase: “Esta geração de homens vivos não passará até cumprir tudo referente a Jerusalém, e esta geração – a nação de Israel- não passará até cumprir o restante da profecia.”
Contudo, nos 41 lugares onde a palavra grega “genea” se encontra na Bíblia, o sentido é sempre “geração” e não “nação”. Há um ensino que a palavra grega “an” importa dúvida ou possibilidade: Young traduz “esta geração pode não passar”. Diz-se que a volta foi adiada quando os judeus definitivamente rejeitaram o Evangelho.
Outra explicação do trecho é a seguinte: “Se os tradutores tivessem traduzido “haute genea” ESSA geração, como se traduzem as mesmas palavras em Hebreus 3.10, tudo teria ficado claro, e tudo de acordo com a índole da língua grega, vista que “houtos”, “haute”, “houto” costumam referir-se ao assunto em discussão: no presente caso, a geração que vê estes sinais. Isto é, que os sinais e a consumação da vinda, tudo caberia dentro de uma só geração”( Prophecy vol. XVIII. Ne 8, pág. 15).
Há outra interpretação desta profecia de Mateus 24 e Marcos 13.26 e Lucas 21, baseada na repetição da palavra vós até o versículo 28 em contraste com eles em Marcos 13.26. A conclusão dessa interpretação é que “as profecias em Mateus 24 até o versículo 28; em Marcos 13 até o versículo 23; e em Lucas 21 até o versículo 24, cumpriram-se enquanto alguns dos apóstolos ainda viviam”.
“Ninguém pode duvidar que Lucas se refere explicitamente a Jerusalém, e devia acontecer dentro de 40 anos; e devemos lembrar que os três evangelistas registram o mesmo discurso, e por isso no mesmo contexto, que a história recorda, que a igreja em Jerusalém assim interpretou a profecia, e obedecendo o mandato do Senhor para que saísse da cidade, salvou-se da destruição de Jerusalém” (Roberts, “The Olivet Prophecy”).
Se alguém nos disser que, afinal, Jesus não deu uma resposta clara e positiva à pergunta: “Declara-nos quando sucederão estas coisas” (3), responderemos que isso Cristo não podia revelar, visto ter Ele declarado não saber o dia nem a hora (36).
“Levado” nos versículos 39,40 e 41. Muitos expositores, inclusive Scroggie, Grant, Darby, Kelly, etc. entendem que em cada um destes versículos o sentido é “levado para o juízo” e “deixado para ter parte no milênio”.
Contudo, no versículo 39, a palavra traduzida “levar” é “airo”, e nos versículos 40,41 é “paralambano”. Esta última palavra é empregada em Mateus 1.20,24; 26.37, onde é traduzida “receber” (Mc 4.36 ; 5.40, e muitos outros lugares). Diz B.W. Newton: “Uma consulta dos últimos versículos de Lucas capítulo 17 mostra a relação das palavras ‘um será levado’ com o levar os santos por Cristo”. Assim há entre os expositores diferença de interpretação de Mateus 24.40,41. [A expressão “um será levado e o outro será deixado” também se aplica ao arrebatamento].
Servos bons (45-47) e servos maus (48-51). O servo fiel e diligente será premiado; o servo mau será castigado. Quando um servo de Deus, em vez de prosseguir com seu trabalho, começa a “espancar os seus conservos”, depreciando-os, ele está em franca decadência.

Propostas emendas de tradução. Corrigir a V.B lendo “grande voz de trombeta” (v.31, C.179). Do versículo 36 devemos omitir “nem o Filho” que pertence a Marcos 13.32 mas não aqui (C 169).