quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

MARCOS CAPÍTULO 8

A segunda multiplicação de pães (1-9). Podemos notar que a primeira é narrada por todos os quatro evangelistas; a segunda só por Mateus e Marcos. Marcos acrescenta as palavras “alguns deles vieram de longe” (v.3).
“Note-se, entre outras coisas: que Jesus quis ocupar seus discípulos com as necessidades materiais do povo; que Ele sentia ‘compaixão’ pela multidão faminta; que seus discípulos pouco tinham aprendido com o milagre anterior, embora fosse no mesmo lugar e nas mesmas condições; que Jesus nos deu o exemplo de dar graças antes de comer (o apóstolo Paulo fez a mesma coisa, na presença de descrentes – At 27.35); que o alimento era suficiente para todos comerem bem (v.8)
“Decápolis era a região que ficava ao sul e sudeste do lago de Tiberíades, e continha as dez cidades que deram o nome ao distrito (Decápolis significa dez cidades)”.
“Depois de alimentados os 5000, levantaram-se doze cestos de pedaços, e depois dos 4000, sete cestos. A palavra traduzida ‘cestos’ não é a mesma. Os 4000 deixaram sete ‘spuridas’ e os 5000 doze ‘Kofinon’. Estes eram cestos de mão, aqueles (os sete) grandes balaios suficientes para conter um homem. Paulo foi arriado pelo muro em um deles (At 9.25)”.
Duas vezes Jesus alimentou a multidão e ambas as vezes em circunstâncias semelhantes e da mesma maneira. Em ambas as narrativas há gente com fome, um lugar deserto, discípulos perplexos, mantimentos escassos, a ordem de sentarem-se, ações de graças, festa, sobra, e despedida. O contraste é entre um dia e três dias, 5000 e 4000, cinco pães e dois peixes, sete pães e alguns peixes, doze cestos e sete balaios.
“Quão pouco progresso os discípulos tinham feito no entendimento! As poderosas intervenções dos tempos passados fogem-lhes à memória. Cada nova dificuldade parece-lhes invencível; cada nova necessidade os leva a supor que as maravilhas da graça divina se esgotaram (Trench). Porventura somos também assim? Ou a nossa passada experiência de Deus ajuda-nos a enfrentar as novas situações com coragem e confiança? Posso acreditar que Cristo tenha visto nestes dois milagres uma figura da iminente paixão. Ele era o pão partido para satisfazer a fome do mundo. O leitor já tomou parte na festa?” (Scroggie).
Pedindo sinais. As partes de Dalmanuta (10-21). Supõe-se que Dalmanuta era uma vila a leste do mar da Galiléia e perto de Magdala.
Devemos comparar este trecho com Mateus 16.1-4 para saber que Jesus se referia aos sinais dos tempos em resposta ao pedido malicioso dos fariseus. O fermento dos fariseus e de Herodes (15). Há males progressivos que permeiam tudo em redor. Por isso Jesus emprega a figura do fermento: um princípio ativo que, em pouco tempo, leveda toda a massa.
O fermento dos fariseus era a hipocrisia: uma religiosidade exterior e inútil. O dos herodianos era o mundanismo; a política. O dos Saduceus (Mt 16.6). a incredulidade e materialismo. Todos os três são males que se alastram, corrompendo a massa toda.
Neste pequeno discurso com os discípulos Jesus faz-lhes dez perguntas e obtêm duas respostas.
A cura de um cego de Betsaida. (22-26). Existe uma dúvida sobre se a Betsaida da Bíblia é a mesma Betsaida- Júlias ao norte do mar da Galiléia, ou outro lugar do mesmo nome a leste (perto deste lago), de Corazim e Cafarnaum (Mt 11.21,23; Jo 12.21).
Este milagre é narrado só por Marcos. É uma das poucas curas demoradas que Jesus fez. O primeiro contato do Homem com Cristo não teve resultado completo. Conosco pode dar-se coisa semelhante.
Devemos notar o empenho, a simpatia e o trabalho de Jesus com este cego, tomando-o pela mão e levando-o para fora da aldeia. Tantas vezes Ele curava com uma palavra, mas agora se ocupa com um serviço prolongado.
Podemos entendes que Deus dispõe de tempo para atender às nossas necessidades.
“Vemos Cristo acomodando o ‘posso’ do seu poder à debilidade da fé do cego... Foi curado lentamente porque creu lentamente. A sua fé era condição da sua cura, e a medida dessa fé determinava a medida da sua restauração”(Maclaren).
“Aqui são narrados sete atos do Senhor. 1) Tomou o cego pela mão, isso para levá-lo fora da aldeia. Podemos aprender disto que, para sermos verdadeiros iluminados, devemos submeter-nos a ser guiados. Por seu Espírito, Cristo nos guiará em toda a verdade. 2) Levou-o para fora da vila, como se tivesse dito “saí do meio deles e apartai-vos, e não toqueis coisa imunda (2Co 6.17). A separação é necessária para que haja gozo espiritual. 3) Cuspiu nos seus olhos. Tem havido várias explicações disto. Talvez fosse “como processo medicinal, não eficaz em si, mas feito eficaz por energia divina”(Weiss). Vemos o emprego do cuspe em (Marcos 7.33 e João 9.6-14).
Impôs-lhes as mãos, um símbolo de comunhão e comunicação de saúde e poder, aqui um ato de compaixão divina. 5) Perguntou se via alguma coisa, mas o homem enxergava mal ainda. 6) Impôs-lhe as mãos outra vez. 7)Mandou-o levantar os olhos” (Goodman).
No versículo 26 leia-se “Não entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”. (C.C. 273).
A confissão de Pedro (27-33). Já consideramos este incidente no nosso estudo de Mateus 16. Observamos Jesus ocupado em despertar a compreensão dos discípulos a respeito dele mesmo. Para um judeu piedoso o reconhecimento de Jesus como messias prometido era de suma importância. Alguém pode interrogar a qualquer um de nós sobre o que Jesus significa para nós, e como responderíamos? Este incidente é relatado mais detalhadamente em Mateus 16.13-23.
Jesus prediz a sua morte (31). Para os discípulos parecia tão incompreensível que Pedro o repreendeu. Devemos notar que Jesus faz a predição da sua morte depois de convencer os discípulos da divindade dele. Se tivessem conservado na sua memória essa sublime verdade, não teriam ficados tão desanimados pela sua morte.
Neste trecho temos: 1) A confissão. 2) A repreensão. 3) A advertência.
1) A confissão. Antes de ouvirmos a confissão de Pedro vamos notar alguns pareceres errados referentes a Cristo, pareceres que lhe atribuem algum bem, mas não acertam com a verdade.
Que dizem hoje de Cristo? Um homem bom, exemplo perfeito, mártir inocente, mas a verdade é outra: Ele é o Salvador único e divino. A confissão de Pedro importava em:
a) cumprimento de profecia (Dt 18.15, etc.);
b) propósito divino (Cristo significa ungido);
c) verdade reservada (v.30);
d) a esperança do mundo.
2) A repreensão. Pedro que repreende, é repreendido. Notemos em Pedro:
a) pouca prudência;
b) falta de discernimento;
c) coragem mal-empregada;
d) falta de respeito.
3 A advertência de Jesus aos discípulos ensina-lhes:
a) o que é necessário para seguir a Cristo;
b) que o amor de Deus deve ser o supremo motivo;
c) Que perder a vida pode ser lucro, e ganhar o mundo, prejuízo;
d) que o homem pode “resgatar” a sua alma (psyche: vida ou alma);
e) que envergonhar-se agora de Cristo terá consequências tristes no porvir.
Levando a própria cruz (34-38). Para entendermos o ensino de Jesus a respeito devemos notar que esse ensino segue a predição da sua morte. É como se dissesse: “Este mundo não somente matará a mim, mas vós também não deveis esperar outra sorte, se fordes fiéis em seguir meu exemplo e ensino”. (Veja-se porém sobre Mateus 16.24-28).
“Negar-se a si mesmo”. Quando Pedro negou seu Senhor, ele disse: “Não conheço esse homem”. Quem puder falar assim a seu próprio respeito sabe o que significa negar-se a si mesmo. É muito natural pensar: “O que, então, será de mim?” É muito espiritual pensar; “Como servirá isso à vontade do meu Senhor?”.
Notemos que a palavra grega psyche nos versículos 35-37, traduzida por Almeida duas vezes “vida” e duas vezes “alma”, é sempre “vida” na V.B.
Devemos pensar o que significa “perder” a nossa vida. Uma vida perdida é uma vida não aproveitada com vantagem. Uma vida preocupada com vícios, prazeres, interesses materiais, e glórias humanas, é perdida.
Contudo, o mundo julga “perdida” (35) uma vida dedicada a Deus.
O Senhor Jesus considera o caso de alguém ganhar “o mundo todo” – ter infinito lucro material – e contudo não ter uma vida abundante, transbordando da bênção divina.
A mais real satisfação na vida não está em adquirir, mas em criar, e, contudo, vemos a maioria empenhada em adquirir – um empenho que nunca satisfaz.

Não é possível reaver uma vida perdida (v.37).

MARCOS CAPÍTULO 7

O mandamento de Deus e as tradições dos homens (1-23). Aprendemos deste trecho: que o cristianismo é uma religião espiritual e não formal; que a verdadeira contaminação é do mal sai do coração, não do alimento que entra pela boca.
É fácil haver uma religiosidade exterior que faz muita questão de ritos e cerimônias, da distribuição do cálice do Senhor em um ou mais copos, da atitude do corpo em oração, mas que não se preocupa com o estado do coração.
Podemos ter quase a certeza de que, na medido em que alguém se preocupa com coisas materiais, deixa de apreciar os valores espirituais. Alguns chegam a ponto de excomungar os crentes mais espirituais, uma vez que estes não usam os mesmos ritos e cerimônias.
Podemos considerar quatro pontos:
1) Qual foi a tradição dos anciãos.
2) Qual foi o costume dos discípulos.
3) Como os fariseus comentaram o caso.
4) Como Jesus vindicou seus discípulos.
(Matthew Henry).
Notemos que grande parte da religião dos fariseus consistia em censurar os outros. Vieram de Jerusalém, uma viagem de muitas léguas, não para aprender, mas para criticar.
A explicação dos versículos 1-4 mostra que Marcos não escreveu para os judeus, que já sabiam seus próprios costumes.
“Que seja um corbã (uma oferta dedicada a Deus v.11), assim permitindo a um filho mau alegar que seus bens eram dedicados a Deus, e por isso não disponíveis para sustentar seus velhos pais.
O fim do versículo 19 tem sido muito discutido pelos instruídos. Alguns preferem a tradução como na V.B. “isto disse, purificando todos os alimentos”, mas não é certo que deve ser traduzido assim “Isto disse” não estão no grego.
“O Senhor explica que o processo de comer, ainda que sem a cerimônia de lavar as mãos, à qual os fariseus davam tanta importância, não contamina o homem. Embora algumas partículas de impurezas fossem ingeridas, tudo seria purgado na ordem natural, e o homem não ficaria pior” (Goodman).
“Marcos salienta mais que Mateus a escrupulosidade religiosa que se preocupa com o exterior, as lavagens, cerimoniais de mãos, copos, vasilhas, leitos – uma coisa enfadonha e sem proveito espiritual. Deus, pela pena de Isaías (29-13), havia caracterizado isso como mero externalismo sem coração. Mandamentos humanos pretendendo autoridade divina – uma coisa tão essencialmente oca que o Senhor a denuncia como Hipocrisia” (Grant).
A mulher cananéia (24-30), Tiro era uma cidade de gentios, e a mulher era estrangeira. Neste incidente consideremos:
1)A menina sujeita a um poder diabólico, sofrendo um mal que os médicos não sabiam curar; figura de moças de hoje que não se submetem a vontade de Deus.
2) A mãe da menina, provavelmente viúva, empenhada pelo bem da filha, e persuadida a recorrer a Cristo.
3) O Salvador da menina, aparentemente indiferente ao mal, parecendo menos misericordioso que os discípulos, mas querendo desenvolver a fé da mulher e instruí-la a contar plenamente com a sua misericórdia.
4) A cura da menina. Vemo-la agora, em vez de aflita, tranquila; em vez de exaltada e irritada, cheia de gratidão; em vez de sentir o poder do maligno na sua vida, experimenta o poder e a graça de Cristo.
A cura do surdo e gago (31-37). É relatada somente por Marcos. Podemos achar nos benefícios que Cristo trouxe ao corpo dos doentes figuras das bênçãos que Ele quer trazer ao nosso espírito. Quem é espiritualmente surdo ou gago? Quem escuta bem a voz de Deus e fala claramente com Ele?
Notemos  neste milagre: a localidade. Decápolis (“dez cidades”) fora da Terra Santa, entre os gentios; o empenho dos amigos que trouxeram o surdo a Cristo; o pedido dos amigos; o silêncio do doente; numa semelhança com a cura do cego em 8.23, Jesus usa um processo em vez de simples palavras.
Jesus toma o homem à parte da multidão: a preocupação com a gente em redor pode, às vezes, impedir o recebimento da bênção divina.
Não nos esqueçamos de que Jesus levantou os olhos ao Céu, como que confessando que o ato de misericórdia que ia praticar era de acordo com a vontade divina. Ele suspirou, pensando, talvez, nos milhares que não procurariam a sua graça – ou talvez sabendo que o homem podia deixar de usar da melhor maneira a bênção recebida.
O que Jesus fez devia ter explicado ao doente (que não podia ouvir) o sentido da sua oração silenciosa, com os olhos levantados ao Céu. Assim ensinou ao doente que o benefício suplicado havia de vir dos céus.

“E ordenou-lhes que a ninguém dissessem”(v.36). Por que? Quando nada, Jesus não ambicionava publicidade; mas as maravilhas que fez não podiam ser escondidas: “Quanto mais lho proibia, tanto mais o divulgava”. 

MARCOS CAPÍTULO 6


Um profeta sem honra (1-6).  Jesus volta a Nazaré, onde fora criado, e onde, com certeza, assistira sempre ao serviço da sinagoga. Mas agora Ele começa a ensinar ali (v.2) e dá ensinos preciosos, que vemos mais detalhados em Lucas 4.18-22.
Mas os ouvintes estranham que um *carpinteiro “se tenha tornado pregador”, e alguns, em lugar de atender ao ensino, criticavam o ensinador.
* “Operário”, ou antes, “construtor” parece-nos dar melhor o sentido do grego “carpinteiro”. A palavra Tekton não se encontra em outra parte do N.T., mas Paulo se chama archi-tekton (donde vem à palavra arquiteto) em 1 Co 3.10. Tekton empregava-se frequentemente, mas nem sempre, para oficiais em construções em madeira. Notemos as várias alusões nos evangelhos à construção de casas (A.C. Deane).
Notemos as cinco perguntas (vv.2,3). Há também uma incredulidade que resulta de familiaridade (vv. 3,6); a própria família é, às vezes, quem menos aprecia: Jesus, rejeitado na cidade percorre as aldeias.
Os irmãos de Jesus (v.3). Se estes “irmãos” (Mt 12.46; Gl 1.19) eram ou não filhos de Maria é um ponto muito debatido. Podemos entender que a linguagem favorece a ideia, e que não é necessário atribuir a Maria uma completa esterilidade depois do nascimento de seu primeiro filho.
O romantismo, querendo honrar a virgem, ensina que o casal não tinha filhos, mas, segundo o ensino do V.T., isso, em Israel, não era tido por honroso (Gn 25,21; 29,31; Dt 33.24; Sl 127.3,4; Lc 1.7).
Podemos contrastar os poucos enfermos curados do versículo 5 com os muitos curados do versículo 13.
Os doze enviados (7-13). Em 3.14 Jesus chama os doze para estarem com Ele, sendo assim, preparados para se tornarem mensageiros. Ele agora envia-os de dois em dois. Consideremos algumas vantagens desta associação em serviço: a) Se um tropeçar, o outro poderá apoiá-lo. b) Podem combinar em oração e assim melhor discernir qual seja a vontade do Senhor. c) O testemunho de cada um é reforçado pelo outro. d) Podem encorajar e admoestar um ao outro. e) Podem trocar impressões da Palavra de Deus.   f) Podem estimular um ao outro ao amor e às boas obras (Hb 10.24).
Mas por serem dois, precisam: de longanimidade, tolerância, paciência, aptidão para apreciar o ponto de vista do outro; da humanidade que não insiste na própria vontade, do amor fraternal que considera o bem do seu irmão.
Notemos que “três a três” não traz as mesmas vantagens de dois a dois. Pelo contrário, às vezes acarreta grandes inconvenientes.
Embora “dois a dois” seja o ideal para o serviço cristão, é preciso, muitas vezes, devido às circunstancias contrárias, empreender um serviço isolado, ou continuar sozinho quando desaparece o companheiro.
“Para todo o programa da missão dos doze, consulte-se Mateus 10.5-42, notando: a esfera da sua missão; o tema da sua pregação; as suas credenciais; seu aparelhamento; a sua maneira de chegar às casas, e o seu procedimento nas casas e nas vilas”.
No versículo 8 leia-se: “nem saco para esmolas” (J.237)e “nem bordão”, e no versículo 9: “nem alparcas” (O.143).
A morte de João Batista (14-29). Podemos notar em toda a história e influência maléfica de mulheres iníquas. “Sob a sua influência os reis têm se tornado ignóbeis, e déspotas; benignos têm se tornado monstros e assassinos”.
Uma das lições principais deste incidente é a iniquidade de fazer uma promessa sem a condição essencial: “Se Deus quiser”.
O crente é um ‘servo de Jesus Cristo’ (1Co 7.22) e o escravo não dispõe de nada, nem de si mesmo (em casamento, por exemplo) sem consultar a vontade de seu Senhor.
No versículo 14 leia-se; “por isto estas maravilhas são feitas por ele” (O.98). No versículo 20 “e guardava {em memória} muitas coisas que ouvira dele, e de boa mente o ouvia” (O.155).
No versículo 27, em vez de “executar” (como em Alm.) leia-se “soldado da sua guarda” (como na V.B.)
“Herodes sabia mais do que quis fazer (v.20) e nisto era semelhante a muitos outros. É uma tragédia ter ideias nobres e costumes baixos; sublimes pensamentos e hábitos degradantes. Porventura a sua vida é uma unidade sublime ou uma patética contradição?” (Scroggie).
A primeira multiplicação dos pães (30-44). Uma lição deste trecho é a necessidade de descanso e tranquilidade. Jesus (v.31) considerou esta necessidade, e providenciou. Contudo, parece que o descanso foi logo interrompido (v.33).
Outra lição é que o pouco pode ter muito valor, com a bênção de Deus. Que alimento espiritual temos nós que podemos repartir com nossos semelhantes?
Supõe-se geralmente que o versículo 44 significa “em cem filas, com cinquenta pessoas em cada uma”. Isto combina com Lucas 9.14,15. Assim a contagem seria fácil e 50 X 100 dá 5000.
“Notemos alguns pontos neste milagre: a) O versículo 36 mostra a simpatia dos discípulos e também a sua falta de fé. Eles sentiam a necessidade do povo, mas nunca pensaram em supri-la; e quando Jesus propôs-lhe que fizessem, perceberam somente dificuldades (37). Quão facilmente levantamos dificuldades!  b) Jesus serve-se sempre dos meios disponíveis (v.38). c) Em todo o serviço do Mestre havia método (39,40): “Fazei tudo com decência e ordem”. d) Jesus pediu a bênção divina sobre a refeição (41). Notemos que Ele tomou o alimento, levantou os olhos, deu graças, quebrou o pão e o distribuiu. É possível que umas 20000 pessoas tenham sido alimentadas milagrosamente nessa ocasião”.
Jesus anda sobre o mar (45-52). Tanto o capítulo 4 como o capítulo 6 relatam um incidente marítimo:
Os discípulos embarcados, e uma tempestade no pequeno mar da Galiléia. (Veja-se no mapa)
Na primeira vez Jesus estava com eles na barca, e na segunda, estavam sozinhos, e Ele, no alto, orando.
O primeiro incidente pode representar os tempos passados; o segundo, o período atual. Jesus agora está lá no alto, intercedendo, mas a fé do verdadeiro discípulo considera-o sempre presente, e superior às ondas da tribulação.
“Este incidente é história, parábola e profecia. Nosso Senhor lá do alto, orando por nós, vê como são contrários os ventos, e, na vigília que termina a noite, Ele virá a nós, e nos levará à praia. Renovado pela oração da montanha, Jesus volta ao seu trabalho na planície (53-56) e os que o tocam são sarados”.

Notemos o empenho de Jesus em servir às necessidades físicas do povo (vv.53-56). Notemos também como todos os necessitados se sentiam atraídos a Ele, e em seguida provaram que “Cristo Salva”.

MARCOS CAPÍTULO 5


O endemoninhado gadareno (1-20). Thompson em The Land and the Book, entende que Mateus aponta, como sendo o lugar onde este incidente se deu a aldeia de Chersa ou Gergesa, à beira do lago.
A província dos gadarenos (habitantes de Gadara) ao leste do mar da Galiléia, era fora da terra Santa, e sob o domínio dos gentios. Aprendemos deste milagre de cura:
1) Que espíritos imundos são capazes de dominar um ser humano. O espiritismo pode oferecer-nos hoje alguns exemplos de semelhante obsessão.
2)Que uma pessoa  sob tal maléfico domínio torna-se incompatível para a sociedade de gente civilizada.
3) Que tal pessoa fica sem sossego, sem paz; perigosa, indomável.
4) Que na presença de Jesus, o homem se sentiu atraído e repelido. Atraído, talvez, pela graça e compaixão do Salvador, e repelido pela santidade que reprovava a sua impureza.
De Jesus notamos:
1)Que, na presença dos poderes diabólicos, sendo reprovado por eles, reprovou imediatamente esses espíritos imundos.
2) Que a sua presença inspira respeito, até dos perdidos.
3) Que exigiu uma ampla confissão do nome e estado do possesso (v.9)
4) que, sendo rogado a retirar-se, foi imediatamente.
5) Que recusou levar consigo o homem  curado, porque este devia primeiro testemunhar aos seus (v.20)
O Dr. Scroggie dá as seguintes divisões:
1)Uma criatura miserável (1-5).
2) Um Salvador poderoso (6-10).
3)Um pânico entre porcos (11-13).
4) Uma grande sensação (14-17).
5) Um servo obediente (18-20).
Notemos os quatro pedidos: do endemoninhado (v.10); dos demônios (v.12); dos gadarenos (v.17); do homem curado (v.18).
“Temos um quadro do homem curado, ‘assentado, vestido e em perfeito juízo’. Passaram o desassossego, a veemência, a paixão. A vergonha da sua nudez está coberta, ele tornou em si mesmo e tem juízo perfeito. Porventura pode haver um juízo perfeito sem que se venha a Cristo?
“Mas o mundo é um mundo caído, e Satanás o seu príncipe. Aqui vemos como isto chega a ser. Esses que rogam a Cristo que se vá, verão o Diabo ficar. O Senhor nos explicou como uma casa varrida e adornada convida a uma visita dessa natureza. Rogam a Cristo, cortesmente, que se vá, pois é possível alguém rejeitar ao Senhor com bons modos; e Ele vai mesmo.
“Mas o homem libertado tem outros pensamentos. A graça divina tem operado no seu coração, e a libertação de que ele tem sido objeto é uma grande realidade. Roga permissão para ficar com Jesus, mas o Senhor tem outros propósitos a seu respeito: “Vai para a tua casa, para teus parentes, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti”. Assim o pecador salvo é feito testemunha da salvação que recebeu no mundo onde Cristo tem sido rejeitado. “E ele foi, e começou a publicar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera” (Grant).
A mulher com fluxo de sangue (21-34). Notemos dela: os anos do seu padecimento; os esforços inúteis para conseguir uma cura (Lucas, o médico, refere que ela gastara com os médicos, mas não conta que ela padecera com eles); o esgotamento dos seus recursos; o desenvolvimento da sua moléstia (v.26); o evangelho que ouviu (v.27); o esforço que fez; o caráter da sua fé (v.28); a rapidez da sua cura; seu susto (v.33). Para entender “a orla do seu vestido” consulte-se Números 15.38.
Segundo Levítico 15.19, o contato com a mulher imunda contamina; mas Jesus ao invés de ser contaminado pelo mal, curou-a.
O Dr. Scroggie marca as seguintes divisões: sua necessidade (v.25); seus desapontamentos (v.26); sua esperança (v.27); seu esforço (v.27); seu contato com Cristo (v.28); sua recompensa (v.29); seu medo (v.33); sua confiança (v.33); sua confissão (v.33); sua salvação (v.34).
Notemos a diferença entre a mulher e Jairo. Este um homem, aquela uma mulher; este interessado na necessidade de outrem, aquela na própria necessidade; este abastado, aquela pobre; este veio abertamente, aquela secretamente; este pediu a bênção, aquela tentou furtá-la. Mas ambos obtiveram seu desejo porque Cristo era a sua única esperança.
A filha de Jairo (35-43). Entre as lições que este incidente ensina, notemos: a) que uma interrupção pode ser uma prova de fé. Visto que a menina estava nas últimas, a demora com a mulher doente deve ter afligido bastante o pai da criança; b) que Jesus, ao receber a notícia do falecimento da criança, apressou-se a reanimar o pai: “Não temas! Crê somente!”; c) que o Salvador corresponde à medida da fé do indivíduo; quem crê que um mero contato trará saúde, prova que assim é (v.28); quem sente a necessidade da presença do Salvador na sua casa (v.23) terá Cristo ali consigo; quem conta que uma palavra de Jesus será suficiente (Mt 8.8), prova que até isto basta.
A palavra “a menina não está morta, mas dorme” não quer dizer que ela não tinha realmente falecido, pois Lucas 8.53 dá a certeza disso. Mas para Jesus – e para o crente- a morte é parecida com um sono, do qual a voz divina acorda o que dorme (At 7.60; 1 Ts 4.13,14).
As palavras “Thalitha cumi” são da língua aramaica.
Depois de a palavra do Senhor Jesus ter dado vida à menina, era mister o cuidado dos pais em alimentar essa vida (v.43). “As palavras provam que a menina tinha agora perfeita saúde, a ponto de ter apetite. Embora recebesse vida por um poder extraordinário, devia ser alimentada por meios comuns. O conselho de um pagão sobre outro assunto é aplicável: ‘nec Deus intersit, nisi dignus vindice nodus inciderit’. (Quando o poder milagroso de Deus é necessári, que seja procurado; quando não é preciso, que se empreguem os meios comuns.) Agir de outro modo seria tentar a Deus” (Treasury).
Podemos notar os mesmos doze anos da doença e da vida da criança. Por doze anos a mulher ficando cada vez mais fraca; por doze anos a menina ficando mais robusta, até que lhe sobreveio uma doença repentina. Então, no momento de extrema necessidade, as duas encontraram seu recurso suficiente e completo em Cristo.
Na bíblia há somente sete casos são de crianças. Elias levantou o filho da viúva de Sarepta (1Rs 17.19-24); Eliseu, o filho da mulher sunamita (2 Rs 4.34-37). A maneira de ressuscitar a criança em cada caso é instrutiva. Elias estendeu três vezes sobre o menino e pôs a boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele, e curvou-se sobre ele, transmitindo-lhe calor à carne.

Quão diferente o procedimento do Senhor Jesus! “Tomando a mão da menina, disse-lhe Thalitha cumi”. Ele era maior poderoso do que a morte. Mas em ambos os casos houve contato.

MARCOS CAPÍTULO 4


A parábola do semeador (1-20). Para alguns pensamentos referentes a esta parábola, consulte-se o comentário de Mateus 13. Marcos acrescenta no versículo 7 as palavras “e não deu fruto”.
Note-se que na Bíblia “as aves do céu” quase sempre têm mau significado.
Qual é a sementeira que Deus tem semeado na vossa alma, e qual o fruto?
Notemos que o semeador é um: Deus (ou seus servos); a semente é uma: a palavra que declara Deus revelado em Cristo; mas há um adversário – Satanás (ou seus servos) que tira (de que modo?) a palavra semeada no coração.
Muitas vezes no seu ministério o Senhor Jesus repetiu as palavras “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (v.9) Esta parábola pode ser chamada a dos ouvintes que não ouviram. O Filho de Deus é o Semeador, a semente é a Palavra, que, semelhante á semente, tem vida em si, e, quando as condições são favoráveis, nasce e produz fruto.
Notemos três pontos na parábola: 1) As coisas que impedem o ouvir. Estas são o caminho (desleixo e indiferença), o pedregulho (a mente sem propósito e perseverança), os espinhos (o amor dos prazeres e outros deleites). Tais ouvintes nunca realmente ouvem. A verdade não pode fazer nada com eles. No primeiro caso, as aves consomem a semente; no segundo, o sol queima-a; no terceiro, os espinhos sufocam-na. 2) O coração que realmente ouve, é chamado de honesto e bom (Lc 8.15). Os tais ouvem a palavra, isto é, com o ouvido da fé, recebem-na (20). 3) Os resultados são diversos, em proporção à realidade do ouvir; alguns trinta, outros sessenta e ainda outros cem por um. Esse fruto não é produzido de uma só vez, mas representa o costume de uma vida inteira. Bem aconselhou-nos o Senhor: “Atendei ao que ouvis” (v.24, V.B.) e “vede pois como ouvis”(Lc 8.18), pois nem toda pregação é boa semente, e há diversas espécies de ouvintes (Goodman).
A parábola da candeia (21-25). Não se encontra em Mateus, mas aqui e em Lucas somente. Ensina que, tendo sido iluminados pela verdade de Deus, somos responsáveis por difundir essa luz entre os nossos semelhantes. O alqueire representa os cuidados e interesses materiais da vida: cama, os confortos. Devemos cuidar que nosso testemunho não seja impedido por um ou outro (Gray).
A semente cresceu ocultamente (26-29). O homem (26) não é Cristo, pois nem tudo que se diz dele é aplicável ao Senhor. Este não dorme, nem acorda; e Ele “sabe como” (27). Aplica-se, porém, ao servo de Deus que sai levando a preciosa semente.
A semente é lançada na terra. Os que desejam ceifar precisam semear primeiro (Sl 126.6)
O semeador não pode fazer mais nada do que isto. Ele dorme de noite e acorda de dia, e não se aflige pelo resultado de sua sementeira.
A semente nasce sem ele saber como. Quem poderá explicar o mistério da maneira pela qual a verdade de Deus opera na mente dos homens?
A obra da fé passa por determinadas etapas. Não esperamos fruto maduro do recém-nascido. Primeiro a erva- o primeiro amor, o zelo do principiante, os desejos por bens espirituais-, depois a espiga – o vigor da juventude espiritual (1 Jo 2.14). Afinal, o grão cheio- o cristão desenvolvido, a graça madura, a plena experiência (Goodman).
“Esta parábola do progresso, manifestação e consumação da vida divina na alma. Uma vez lançada na terra a semente está fora do campo de ação do semeador. Ele se foi embora, mas entram em cena influências que operam até que o fruto apareça por ocasião da ceifa”(Scroggie).
Esta é uma das parábolas que achamos somente em Marcos. A outra encontra-se em 13-34.
Dormindo numa tempestade (30-41). Deste incidente aprendemos algumas lições preciosas referentes ao Senhor Jesus:
1)Seu exemplo de tranquilidade e paz.
2)Seu cuidado dos discípulos assustados.
3) Seu encorajamento, visando estimular a fé.
“O incidente é também uma parábola. Ainda é noite, e está tempestuoso; a Igreja e o crente ainda são afligidos pelo mar proceloso do mundo. O divino Mestre está conosco, embora, às vezes, julguemos que Ele dorme. Ele ainda transforma grandes tempestades em bonanças, e ainda repreende a nossa incredulidade”(Scroggie).
“Acordam-no, e à sua repreensão a tormenta acaba, mas porventura eles não perderam alguma coisa?”

 







MARCOS CAPÍTULO 3

Outra vez o capítulo divide-se em quatro partes, que podemos resumir em quatro palavras: milagres, escolha, blasfêmia e família.
Uma cura e muitas curas (1-12). Aprendemos: que mesmo na casa de oração pode haver alguém imprestável para qualquer serviço; que esse tal, em contato com o Salvador, pode ser habilitado; que fazer bem é lícito em qualquer ocasião; que corações endurecidos se encontram numa sinagoga; que o mal, às vezes tem de ser exposto para ser curado (5); que um espírito imundo pode saber muitas coisas.
“A necessidade humana é manifestada mais evidentemente no incidente do homem que tinha a mão mirrada. Os judeus queriam restringir, pela sua interpretação da lei do sábado, as manifestações do poder divino em prol das misérias de que o mundo estava cheio. Então a lei era para não fazer o bem? Para deixar a morte prevalecer, ou para conservar a vida? Os fariseu ficaram obstinadamente silenciosos. Então Jesus ficou indignado pela dureza dos seus corações, e invocou o poder divino para testificar contra eles. Os inimigos de Jesus ficam confundidos, mas não convencidos, e essa inimizade uniu fariseus e herodianos para o destruírem” (Grant).
A escolha dos doze (13-18). Aqui temos preciosas indicações do “preparo para o ministério”, a saber: Ouvir a chamada de Deus e obedecer  a ela; estar junto dele num lugar retirado; sentir-se  mandado por  Ele a pregar; receber do próprio Jesus todo o poder para o serviço.
“Jesus escolhe doze apóstolos, para comunhão: ‘para que estivessem com Ele’, para serviço: e os mandasse a pregar”(14). Isso é sempre a ordem divina. Nada adianta sair e pregar se não se tem estado primeiro com Deus. Primeiro solidão, depois serviço; primeiro aparelhamento, depois empreendimento; primeiro comunhão, então comissão; primeiro preparação, então pregação. Devemos tomar o tempo necessário para nos aprontar  para o trabalho; também aprender a servir junto com outros. Imaginemos os Doze em treinamento por, provavelmente, dois anos! Cristo não quer trabalhar sem nós outros: por que, então, tentar servir sem Ele?”
A blasfêmia dos fariseus (20-30). Este trecho revela várias contrariedades, começando com os próprios parentes de Jesus (21). A contradição aqui atribuída aos escribas é referida aos fariseus em Mateus e a alguns em Lucas.
A melhor explicação que temos encontrado da blasfêmia contra o Espírito Santo foi dada por G. Goodman. ‘É culpado de um pecado eterno’, é como a V.B. traduz este solene versículo 29. Que significa isto? Como muitos têm sido perturbados e mesmo alarmados seriamente por esta expressão do Senhor, pensemos a respeito: 1) Não é ela para perturbar a consciência impressionável, pois ter uma consciência sensível é estar  na condição espiritual diametralmente oposta. O blasfemo aqui referido é uma pessoa cuja consciência está cauterizada como que por um ferro em brasa. 2) Não se refere a alguém cair em tentação, a um simples pecado ou pecados; é mais uma atitude de espírito do que um ato. 3)não significa uma simples palavra irrefletida ou descuidada, embora blasfema, porque blasfêmias e pecados semelhantes podem ser perdoados (v.28). 4) Não significa meramente atribuir a obra de Cristo ao poder de Satanás, como no caso citado. Esse era um sintoma, e não o próprio crime. Foi porque os escribas fizeram isto que Cristo apontou o perigo em que estavam (v.30). O pecado eterno é a atitude de quem, propositadamente, e em desafio à luz e ao conhecimento, rejeita, e não somente rejeita mas persiste em rejeitar os esforços do Espírito Santo e a graça de Deus oferecida no Evangelho. Tal estado para quem nele permanece sem arrependimento, exclui o perdão, porque é o pecado para a morte referido em 1 João 5.16. Isto expressa o que Cristo ensinou em João 3.18. “Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más”. Pecar contra a luz é uma coisa solene e fatal; continuar nessa carreira é perecer finalmente. Em qualquer tempo que haja um desejo verdadeiro de andar direito e um anelo pela paz com Deus, há a resposta da graça. “Há perdão contigo, para que sejais temido”, porque o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado; somente não há esperança quando aquele sangue é calcado debaixo dos pés, em desrespeito ao Espírito da graça (Hb 10.29).
“Pode alguém hoje  cometer o pecado imperdoável? Isto ao menos é certo: quem pensa tê-lo cometido, certamente não o fez, porque quem o tiver feito não tem semelhante receio”(Scroggie).
Um parentesco espiritual (31-35). No versículo 32 devemos ler: “Porque a multidão estava assentada ao redor dele”(O.5).
Os irmãos e a mãe de Jesus não manifestam compreensão alguma do seu ministério, e querem chama-lo para fora. Por isso o Filho de Deus aponta um parentesco mais sublime e espiritual, com “qualquer que fizer a vontade de Deus”
“Jesus não veio para destruir as relações terrenas, mas para resguardá-las. Veio também para mostrar que as relações espirituais são soberanas. Parentesco natural é passageiro, mas parentesco  espiritual é eterno. Jesus não despreza sua mãe, mas põe em primeiro lugar o seu Pai”(Bengel).
Quando o natural e o espiritual rivalizam-se no nosso coração e na nossa vida, é fatal ceder ao natural. (Leia-se Lucas 9.59-62 e 14.26). É duro ser mal-entendido pelos parentes, mas a lealdade a Cristo pode tornar isso inevitável (Jo 7.5).











MARCOS CAPÍTULO 2


O paralítico (1-12). Depois de uma viagem de evangelização, Jesus está de volta em Cafarnaum, e “logo se ajuntaram tantos que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam”.
Notemos: que o paralítico não podia ir procurar a cura; que a bênção que recebeu foi devida ao empenho de quatro amigos; que menos um desses sabia como poderia abrir um buraco no telhado da casa; que Jesus apontava o motivo da doença, o pecado; que Ele tinha poder para perdoar; que Ele lia os corações; que o “leito” do doente era provavelmente uma espécie de esteira; que os assistentes ficaram impressionados com o milagre.
Sobre a construção das casas em Cafarnaum, e como se podia baixar um doente pelo telhado, podemos consultar “The Land and the Book”, pág. 358. A descrição é muito longa para se traduzir aqui, mas, em resumo, podemos entender o seguinte: os telhados das casas eram muito baixos: os caibros tinham uma distância de um metro de um ao outro; transversalmente aos caibros colocavam-se ramos cobertos de reboco e barro para proteger tudo do tempo. Não é difícil remover uma parte dessa coberta, mas a maior dificuldade da narrativa é pensar no incômodo que a poeira havia de causar às pessoas dentro da casa. Não precisamos supor que os quatro amigos baixassem o doente até o chão sem auxílio algum do povo lá dentro.
Várias coisas interessam-nos neste milagre de cura. Por exemplo:
1) Como Jesus tratou primeiro da origem da doença: o pecado do homem.
2) Como Ele podia e quis perdoar os pecados que causaram o mal, e em fazê-lo demonstrou ser Deus (v.7).
3) A oposição dos escribas assentados ali, e ao mesmo tempo o discernimento deles que o perdão de pecados é prerrogativa de Deus.
4) Como Jesus percebeu os pensamentos íntimos deles (8).
5) Porque era mais fácil curar que perdoar: para isso tinha que haver uma obra expiatória; para aquilo, uma manifestação do poder divino.
6) Saúde restaurada era uma prova de pecado perdoado (10).
O homem curado, “tomando logo o leito, saiu”. O dr. Scroggie pergunta a seus leitores; “Vosso leito está debaixo das costas, ou carregado no ombro?”
Levi (Mateus) é chamado (13-17). Ficamos a imaginar se Mateus seria irmão de Tiago, outro “filho de Alfeu” (3.18), e qual dos dois teria falado ao outro a respeito do Mestre.
Vemos o poder da palavra de Jesus; disse apenas “Segue-me”, e foi transformado toda uma vida. Quais palavras de Jesus que mais nos têm impressionado?
A primeira coisa que Levi quis fazer foi apresentar Jesus aos seus amigos, e lembrou-se de fazê-lo por meio de um jantar. Alguém pode fazer hoje coisa semelhante?
O jejum (18-22). Hoje, perante o mundo, jejuamos (abstendo-nos de certos gozos lícitos) porque Cristo está ausente. Reunidos com os crentes, regozijamo-nos porque Cristo está “no meio”.
Os versículos 21.22 ensinam que Cristo não propôs remendar o velho judaísmo nem pôr o “novo vinho” do Evangelho dentro dos antigos ritos e cerimônias. Ele trouxe um novo ensino, uma nova proclamação – as boas-novas de que a graça de Deus pode agora manifestar-se em bênçãos para todos que, arrependidos, creem em Cristo.
Diz o Dr. Scroggie: “A verdade é que o judaísmo e o cristianismo; a Lei e o Evangelho; o legalismo e a liberdade espiritual, são incompatíveis. O novo material do Evangelho não deve ser empregado para remendar o velho vestido da Lei; nem devemos pôr o novo vinho do cristianismo nos velhos odres do judaísmo (leia-se Gálatas 4.5 e especialmente 5.1). É de lamentar que muitos cristãos vivem na velha dispensação do tempo e das estações: “não toques, não proves, não manuseies”- confessando a Cristo, seguem a Moisés. O cristianismo nunca havia de ser um judaísmo remendado. Este fato é a condenação do ritualismo”.
Jesus, Senhor do Sábado (23-28). Cristo viu o povo muito apegado ao ritualismo, por isso ensinou que ritos, cerimônias e dias de guarda não constituem uma lei de ferro. Em seu serviço podemos trabalhar até num dia de guarda, como também atender a necessidade do nosso corpo (25).
A essência do parágrafo está no versículo 27 – O sábado era uma bênção, não uma carga; o sábado era para o homem, e não o homem para o sábado.

Conforme 1 Samuel 21, o nome do sumo sacerdote era Aquimeleque e não Abiatar (v.8). Esta diferença tem sido explicada de diversas maneiras pelos expositores. O livro de Treasury diz que Abiatar era filho de Aquimeleque e que provavelmente pai e filho levaram os dois nomes, que parece ser certo de 2 Samuel 8.17 e 1 Crônicas 18.16, onde Aquimeleque é evidentemente chamado de Abiathar, enquanto Abiathar é chamado de Aqimeleque.